Porque na Vida há maus e bons momentos. Porque no dia-a-dia há acontecimentos que nos afectam positiva ou negativamente.
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quarta-feira, 16 de abril de 2025
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025
quarta-feira, 10 de julho de 2024
segunda-feira, 27 de maio de 2024
Madeira: 48 anos depois, a anomalia persiste
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«E, após 48 anos, a Madeira vai continuar a ser governada pela única força que até hoje teve nas mãos as rédeas do poder regional. O PSD volta a ser o partido mais votado, com 19 deputados, enquanto o seu maior rival, o PS, não passa dos 11.
Num território fechado, como por natureza é uma ilha, onde quem detém o poder tem a capacidade de controlar muitos dos cargos e dos empregos de uma omnipresente administração pública, e de influenciar o poder económico e dos media, uma mudança após 48 anos continua a parecer bem distante.»
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(Do editorial do jornal "Público" de hoje, da autoria de David Pontes)
domingo, 19 de maio de 2024
quinta-feira, 25 de abril de 2024
A miséria continua, se é que não aumentou
«Eu não tive muitas expectativas em relação ao 25 de Abril. Para mim foi essencialmente um movimento corporativo, ditado, em parte, pelo cansaço, no Corpo de Oficiais, em relação à guerra. Um movimento com o qual o governo de Marcelo Caetano não soube lidar, ora concedendo, ora reprimindo, de forma indecisa, contraditória e pouco eficaz.
Para mim e para os que, nos anos sessenta, acreditávamos num projecto de nação plurirracial e pluricontinental, pela qual tinham combatido e morrido alguns dos nossos amigos, para os que éramos e somos, antes do mais, nacionalistas, o 25 de Abril foi o fim desse ideal, desse projecto, do que agora nos aparece como uma utopia. Por isso não tínhamos muitas expectativas.
Mas o geral dos portugueses, que acreditaram na letra das promessas de Abril, esperavam, com o fim do regime autoritário e a chegada da democracia política, uma sociedade mais justa, uma vida melhor, para eles e para os seus filhos. Cinquenta anos passados, não creio que devam estar muito contentes.
A miséria continua, se é que não aumentou; e sobretudo, há cinquenta anos, esperava-se uma vida melhor para as novas gerações na maioria das famílias. Hoje, os filhos têm a expectativa de uma vida mais difícil e pior do que a dos pais. Os salários mínimos e médios são dos mais baixos da Europa e os serviços públicos entraram em crise, mesmo o Serviço Nacional de Saúde, que chegou a ser das poucas excelências do país e do regime.
Não temos censura prévia, mas poucas vezes se viu uma tão grande uniformidade de opiniões em tudo o que tem alguma importância, em política externa ou interna. E a dissidência, que dantes era interdita, continua a sê-lo, embora por processos mais sofisticados e sob a aparência de pluralidade.
Mas como, para o mal e para o bem, acabamos sempre por sofrer a influência da Europa, a nova vaga nacionalista, mais conservadora ou mais popular, já aí está e pode vir a trazer algum equilíbrio.
Quanto às novas gerações, não tenho idade nem procuração para falar por elas. Mas, a julgar pelas indicações da sociologia eleitoral, creio que as novas gerações são mais livres da propaganda do regime e da sua influência, que é muito televisiva. Vejo isso também pelo contacto que vou tendo, em termos pessoais. Apesar dos dispositivos orwellianos que, com o aproximar do meio século do golpe militar, se concentram em pintar os horrores do regime e o PREC como um período revolucionário, heroico e generoso, vejo que muitos dos mais novos – pelo menos os que têm alguma independência – não se deixam enganar e são críticos.
Isso deixa-nos a nós, mais velhos, uma certa esperança, sobretudo aos que sempre procurámos preservar um juízo objectivo da História e das realidades das coisas e nunca nos importámos muito de ser uma minoria marginalizada.»
(Artigo de opinião do politólogo Jaime Nogueira Pinto, publicado no jornal "Ionline" do dia 23/04/2024)
quarta-feira, 24 de abril de 2024
Os "retornados"
Transcrição, com a devida vénia, do artigo de opinião de hoje da autoria de Francisco Sarsfield Cabral,
«Meses depois da revolta militar que derrubou o antigo regime, vagas de ex-colonos desembarcaram em Lisboa, fugindo de uma situação de guerra civil em África. Receou-se uma catástrofe, mas as coisas correram melhor do que se esperava.
Quando se tornou claro que a revolta de 25 de abril alcançara o seu objetivo primordial – acabar com as guerras coloniais – muitos militares que estavam em serviço nas colónias não quiseram continuar a combater. Tornou-se, assim, inviável uma descolonização negociada.
Aliás, descolonizar como fizeram outros países europeus deveria ter sido uma operação realizada pelo anterior regime. Só que isso era impossível, perante a ficção que esse regime sustentava em matéria colonial.
Por isso a descolonização que se seguiu ao 25 de abril não foi programada nem pensada. Mas não houve em Portugal qualquer choque. As colónias africanas só muito recentemente tinham recebido colonos em alguma quantidade, pelo que as autoridades portuguesas controlavam apenas uma faixa litoral.
Logo após a independência, em Angola e depois em Moçambique iniciaram-se violentas guerras civis. Daí que meses depois do 25 de abril, vagas de ex-colonos desembarcaram em Lisboa, fugindo de uma situação de guerra, agora civil, nas colónias africanas.
A maior parte vinha quase só com a roupa que tinha no corpo. Alguns acolheram-se junto de familiares; muitos outros foram provisoriamente instalados pelo Estado em hotéis requisitados para esse efeito.
Num país em crise económica, além da crise política, a vinda de cerca de 600 mil “retornados” parecia constituir uma catástrofe. Os “retornados” passaram tempos muito difíceis, claro, mas a médio prazo não só lograram uma integração pacífica na sociedade portuguesa, como deram um apreciável contributo económico a uma economia semi-paralizada que desprezava a iniciativa privada.
Passados cinquenta anos, os “retornados” não representaram em Portugal um problema semelhante ao que, em França, os ex-colonos da Argélia trouxeram para o território francês. Foi um sucesso inesperado.»
quinta-feira, 16 de novembro de 2023
Pois, já sabíamos que ele é mesmo mentiroso...
Ao contrário do que disse em 2015, Marcelo Rebelo de Sousa fez mesmo um parecer para Ricardo Salgado: "Acabei por não apresentar conta nem ser pago", disse o Presidente. De acordo com documentos encontrados numa busca realizada durante a investigação do Ministério Público ao colapso do império financeiro liderado por Salgado, o parecer foi sugerido pelo próprio banqueiro e intermediado pela namorada do presidente, Rita Amaral Cabral, então administradora não executiva do BESA.
(Fonte da notícia: jornal "Expresso" 15 de Novembro de 2023)
domingo, 8 de outubro de 2023
quarta-feira, 4 de outubro de 2023
quarta-feira, 7 de junho de 2023
quarta-feira, 24 de maio de 2023
Queremos políticos com este perfil?
Transcrição, com a devida vénia, do artigo de opinião da economista Maria João Marques, publicado hoje no jornal "Público" sob o título "João, Eugénia e etc. Queremos políticos com este perfil?",
«Começo por avisar, para ninguém ler estas linhas ao engano: este não é um texto populista na linha de “os políticos são uns malandros que não fazem nenhum”. Pela razão mais simples: esta ideia é falsa. Os políticos, regra geral, trabalham como uns mouros, têm horários extensos que dão cabo da vida pessoal e familiar, são dedicados à profissão. Regra geral, repito; há exceções, mas a maioria está aqui descrita.
Acumulam com uma enorme responsabilidade - porque o seu trabalho e as suas decisões impactam o país e a vida das pessoas - tremendo escrutínio e ordenados risivelmente baixos. Trespassa de cima abaixo. Nas câmaras, no Governo, no Parlamento, nos gabinetes ministeriais.
As mulheres políticas, então, chocam de frente com uma cultura machista empedernida que as vê como boas para bater palmas aos protagonistas masculinos, serem obedientes e leais a quem as escolhe mas nunca, jamais, o horror, serem agentes políticos com ideias próprias e exercerem o poder sem tutelas. Não há partido que escape a isto.
Em suma: é um pequeno milagre termos pessoas com vontade de passar tempo da sua carreira na atividade política. Sobretudo mulheres. Sobretudo pessoas das minorias étnicas e raciais - estas, nem existindo quotas, são meia dúzia.
Porém, feita a ressalva, volto ao título. Queremos - melhor: é sustentável - mantermos o perfil de políticos que temos agora no Governo? E que não é só problema deste Governo ou do PS, apesar de no PS ser mais saliente, porventura porque governou mais tempo nas últimas décadas; o PSD, vê-se na Assembleia da República e nas câmaras que governa, está praticamente igual.
A que perfil me refiro? - questiona a leitora e o leitor impacientes. Bom, ao tipo de político que protagoniza um falhado pacote Habitação e os sucessivos casos da TAP, que não se esgotam nos recentes eventos tragicómicos envolvendo Galamba e o seu ex-assessor e a sua chefe de gabinete. (Não detalho porque não tenho caracteres disponíveis.) É impossível desligar todos estes eventos do percurso profissional dos políticos que os protagonizaram.
João Galamba. Andou anos em Londres para um doutoramento que não terminou. Passou brevemente por um banco e uma consultora até chegar às nomeações políticas para a presidência portuguesa do Conselho da União Europeia e a seguir, com 33 singelos anos, a deputado.
Eugénia Correia. Assessora de gabinetes ministeriais desde 1996, depois de três anos como docente universitária. Nos poucos intervalos do Governo, foi jurista da CGD, essa outra empresa pública que, tendo o mesmo escrutínio que a TAP, produziria, estou convencida, escândalos ainda mais potentes.
Pedro Nuno Santos. Deputado desde 2005, aos 28 anos. Louva-se a passagem nas empresas familiares, um bom contacto com a vida real do país, mas foi experiência toca e foge.
Fernando Medina. Nos governos desde Guterres, com passagem pela Câmara de Lisboa. Antes trabalhou em ministérios. Uma carreira inteiramente pública.
Mariana Vieira da Silva. Entrou para os gabinetes ministeriais em 2005 (27 anos), depois de ter sido investigadora uns poucos anos.
Marina Gonçalves. Teve dois exíguos anos de experiência como advogada, em part-time enquanto já assessora do grupo parlamentar do PS - segundo se entende da nota curricular do Governo. Depois disso, só gabinetes de Governo e Parlamento.
Vêem o padrão, certo? Políticos sem nenhuma experiência do mundo real. Nem qualquer contacto, ou muito rápido, com o mundo privado - aquele sobre o qual decidem mas que desconhecem inteiramente. Formados desde sempre nas tricas partidárias, onde se sobe por acertar nas lealdades certas, não por competência. Não sabem o que são as restrições de tesouraria das PME. Desconhecem as aflições do trabalho social ou associativo, onde se ajudam efetivamente as pessoas sujando as mãos, longe do glamour dos gabinetes ministeriais. As equipas que gerem são de políticos wannabe, usualmente da mesma fação, sem competição ou contestação criativa.
Não há avaliação de desempenho: os resultados das políticas na vida das pessoas não contam. A avaliação é feita consoante se se contribuiu, ou não, para o sucesso político do patrono ou para a manutenção ou ganho do poder. Acederam demasiado cedo a cargos muito bem remunerados para a média nacional, desconhecendo por completo a vivência dos seus contemporâneos de empregos precários e mal pagos atrás uns dos outros, ou imigração, mesmo depois de um curso superior.
Com políticos e governantes que vivem e viveram numa bolha totalmente fora da realidade das pessoas para quem legislam e governam - realidade que lhes é tão estranha como a atmosfera de Marte -, como podemos ter boas políticas ou gestão competente dos ministérios? Como é óbvio, não podemos. Temos pessoas a decidir e governar sobre matérias e setores de que são ignorantes. E, não, ler dossiers e ouvir este e aquele não dá o conhecimento do terreno desejável para decidir bem. Sobretudo, não dá a experiência dos sobressaltos da vida real.
Os vários casos TAP, além das muitas consequências políticas que terão de ter, mostram que o atual perfil de políticos que proliferam no Governo, nas câmaras, no Parlamento e nos partidos é tóxico.
Não trago solução de fórmulas, mas pelo menos para as listas de deputados e para os cargos de secretário de Estado ou ministro deveria existir uma exigência mínima de experiência profissional fora do ambiente público. Ou uma exigência militante dos media e dos cidadãos de uma mistura pelo menos metade-metade, na Assembleia da República e no Governo, entre pessoas que viveram no mundo real e políticos profissionais. Também não me deleito com o extremo oposto: um governo ou um grupo parlamentar de tecnocratas - que tendem a ser politicamente pouco hábeis. (E quem faz percurso nos partidos detesta-os acidamente). Talvez na mistura esteja o sucesso.
Claro, mudar o dito perfil - para políticos que, enfim, saibam da vida - requer que se aumente decentemente os ordenados de deputados e membros do Governo. E se revejam leis de incompatibilidades. Se queremos profissionais experientes de fora, não lhes podemos exigir que, saindo da política, se dediquem aos bordados (ou a facilitar acesso), a invés de trabalharem no que sabem.
Um ponto é certo: o atual perfil dos políticos não serve. Precisamos de outro.»
terça-feira, 16 de maio de 2023
segunda-feira, 15 de maio de 2023
Senhor ministro, meta lá mais tabaco nisso, por favor
Com a merecida e devida vénia, eis a crónica de opinião de Ana Sá Lopes, publicada ontem no jornal "Público",
«Estamos a preparar uma nova “lei seca” - só que, desta vez, não é com o álcool. À falta de melhores ideias para resolver os problemas sistémicos do SNS, Manuel Pizarro veio apresentar-nos esta semana a revolução antitabaco.
É o delírio: o cidadão está a fazer uma viagem grande na auto-estrada e acabou-se o tabaco? Esqueça. As bombas de gasolina só vão bombar álcool. Troque o vício: compre uma garrafinha de gin, das pequenas. Ou umas minis, se se contentar com isso. Corre o risco de se matar ou matar umas pessoas de seguida? Acontece. O Governo não vai medir a taxa de alcoolemia na auto-estrada.
O fumador que já se conformou em não fumar em locais fechados acabou de receber uma magnífica notícia de Manuel Pizarro: também não vai poder fumar em lugares abertos! Ele está sinceramente a ponderar o risco que fumar nas esplanadas totalmente abertas representa para a saúde.
Caro cidadão, pode açambarcar todo o álcool que quiser no supermercado, no minimercado, mas tabaco não. Beba o seu bagaço descansado - ou dois ou três, os que quiser - mas nem sonhe comprar tabaco no café. É em nome da sua saúde, console-se. Se estiver nervoso, meta outra aguardente.
O stress provocado pela falta de tabaco ou antidepressivos pode ser compensado com vinho - já ouvi um notável psiquiatra dizer isto a uma pessoa que conheço e que acabou por recorrer à opção. Não sei se isto ocorreu ao Governo.
O tabaco faz mal, sim. Muitos ex-fumadores são notáveis proibicionistas, até por uma razão simples: é muito difícil deixar de fumar, e a ortodoxia é típica dos cristãos-novos.
Gostava que a preocupação com a nossa saúde se estendesse ao álcool, mas nesse capítulo zero. E está provado que o alcoolismo, ainda muito prevalecente em Portugal, destrói pessoas, espoleta agressões a mulheres e crianças em contexto familiar, torna a vida um inferno às famílias mesmo que não ocorram crimes.
O álcool, que contribui também para os gastos do Instituto Português de Oncologia, é um destruidor de pessoas e tem um papel nos casos de violência doméstica. Mas isso não interessa especialmente ao Governo empenhado em ir além das directivas europeias que obrigam a equiparar o tabaco aquecido ao tabaco normal.
A frase da secretária de Estado da Promoção da Saúde é um mimo: “Basicamente deixa de haver locais onde seja possível fumar.” E beber, senhora doutora? Se é para promover a saúde – e combater assassínios, coisa que não há memória de o tabaco ter provocado –, mais vale também acabar com os locais onde seja possível beber.
Percebo que o Governo esteja pedrado com o caso TAP e precise de criar distracções. Mas a ideia de só vender tabaco em “tabacarias ou similares” coloca, desde logo, uma interrogação: o que é um similar de uma tabacaria? Não há doutrina. E nas pequenas aldeias onde não existe qualquer tabacaria deixa de se vender tabaco? Como é que o Governo vai decidir o que é o "similar"? Um café? Ah, mas os cafés não podem vender. O Dr. Pizarro deve ter matutado no assunto.
E, pronto, também o ministro da Saúde acabou de entrar na discussão sobre o novo aeroporto de Lisboa: quer manter a Portela a todo o custo para o resto das nossas vidas. Comprar tabaco nos aeroportos? Mas se não se pode fumar nos aeroportos porque é que se vende tabaco nos aeroportos? Ah, claro, as free shops. Uma chatice acabar com esse negócio e o do álcool. Os pequenos comerciantes que se tramem.
Um Estado que se financia explorando os mais vulneráveis da sociedade através do vício do jogo - as “raspadinhas”, essa demência institucionalizada recentemente - está a gozar connosco quando nos quer tirar da vista os cigarros.
Enquanto o ministro Manuel Pizarro se ocupava com os lugares onde (não) poderemos comprar tabaco - eu irei açambarcar, como se fez com o papel higiénico na covid -, saiu o relatório da OCDE onde se diz que Portugal é um dos países onde mais álcool se consome na União Europeia, o que pode levar à redução de um ano na esperança de vida daqui a 30 anos. Se quer a ditadura higiénica, vá até ao fim, senhor ministro. E acabe com os enchidos de porco, as gorduras trans, a fast food. Há todo um mundo de proibicionismo e limitação das liberdades individuais à sua espera. Se quer ser coerente, avance a toda a brida e imponha a lei seca. Deu bons resultados no século XX nos Estados Unidos.»
segunda-feira, 8 de maio de 2023
A coroação de Carlos III e esta estranha Inglaterra que eu amo
Com a devida vénia, eis a crónica de opinião de Ana Sá Lopes, publicada ontem no jornal "Público". Dá que pensar...
«A monarquia passou de um sistema político para um entretém simbólico. Carlos III, que ontem foi coroado rei numa cerimónia faustosa, não vai mandar nada e, provavelmente, vai acabar como rei de Inglaterra - com a Escócia, Irlanda do Norte e talvez Gales, de que foi príncipe tantos anos, já fora do reino.
O sistema é obsoleto. Porque é que alguém e a sua família, por razões de nascimento, têm o direito de passar a viver à conta do povo dando contribuições mais ou menos ridículas à sociedade? Por que diabo pode dispor de grandes palácios e terras sem fim, exércitos de servidores, por - na Inglaterra ainda é assim - ter sido ungido por Deus?
A monarquia inglesa enquanto entretenimento é imbatível. Enquanto solução política é obnóxia - mas se é isso que os seus cidadãos desejam, assim seja. Se os britânicos estão dispostos a pagar para sustentar uma fotonovela da vida real, magnífico. Aparentemente, ainda estarão disponíveis para o fazer por alguns anos.
Esta semana, uma professora que dá aulas em Inglaterra dizia-me que deve ser o único país onde um professor catedrático diz que é da “working class”. Classe trabalhadora? Um professor catedrático em Portugal é da classe alta, mas no Reino Unido não. O dinheiro ao dispor da velha aristocracia ainda é muito para que alguém pense que passou - só por ter uma cátedra - ao patamar seguinte.
João Magueijo tem descrições geniais sobre a estratificação social dos ingleses, uma das mais classistas sociedades do mundo. Objectivamente, o sistema monárquico, com toda a sua divisão de propriedade em função do nascimento, é o grande responsável por isso.
Se me diverte a monarquia inglesa? Imenso. Se tem sido um factor de unidade do reino até agora? Sim. Se é a mais evidente prova da desigualdade social? Obviamente.
Mas a Inglaterra que eu amo é a que teve como ministro dos Negócios Estrangeiros Ernest Bevin, que não falava sequer bem o inglês, que começou a trabalhar aos 11 anos, conduziu camiões e depois fundou um sindicato todo-poderoso. Era ele o braço direito de Clement Attlee - esse sim um privilegiado, advogado e filho de advogado, estudante em Oxford, que só passou do conservadorismo para o socialismo quando contactou com a miséria do East End de Londres.
Ernest Bevin, filho de pai incógnito e órfão de mãe desde os dez anos, ocupou nos governos Attlee a residência oficial do ministro dos Negócios Estrangeiros, que ficava ao lado da casa da rainha Mary (avó de Isabel II), que o tratava por “vizinho” e com quem manteve excelentes relações.
A Inglaterra que eu amo deu a um homem que começou a trabalhar aos 12 anos como mineiro em Gales - Aneurin Bevan - o cargo de ministro da Saúde e do Trabalho e a nobre tarefa de fundar o National Health Service.
A Inglaterra que eu amo é a que elegeu James Callaghan primeiro-ministro e que, quando lhe deram a notícia de que tinha vencido as eleições dos trabalhistas, chorou e disse: “E eu que nunca fui à faculdade!”
A Inglaterra que eu amo é onde uma mulher filha de um merceeiro, Margaret Thatcher, conseguiu ser primeira-ministra quando em Portugal nem ministras praticamente havia. As feministas daquele tempo enganaram-se quando gritavam “Margaret Thatcher é um homem” - o feminismo não foi feito para que só as “mulheres boas” ou de quem gostamos tenham o poder.
A Inglaterra que eu amo é aquela em que outro homem que nunca frequentou a universidade conseguiu ser secretário de Estado do Tesouro, ministro dos Negócios Estrangeiros, ministro das Finanças e finalmente primeiro-ministro, substituindo Thatcher - John Major.
Cavaco Silva, Mota Pinto, José Sócrates, Pedro Passos Coelho não vieram da elite lisboeta ou portuense. Mas os restantes primeiros-ministros de Portugal sim. Não temos o sistema classista britânico, mas o recrutamento tem sido feito na bolha que vai da Faculdade de Direito de Lisboa à baía de Cascais.
Não havendo nem rei, nem família real, nem aristocracia, há uma dimensão monárquica muito prejudicial à democracia portuguesa e que é provavelmente responsável por parte do nosso atraso.
A base de recrutamento dos governos em Portugal hoje são as “jotas” e é possível chegar-se a ministro sem se ter passado um único dia na “vida real”. O desaparecimento dos operários, como o eram Bevin e Bevan, dos centros de decisão em Inglaterra (em Portugal nunca estiveram) explica o agravar das desigualdades. Não chega contestar a monarquia, é preciso rebentar a bolha.»
quinta-feira, 4 de maio de 2023
O que deve fazer Marcelo? Nada. É deixar grelhar
Com a devida vénia, eis a crónica de João Miguel Tavares publicada no jornal "Público" de 04/05/2023,
«Uma das melhores razões para Marcelo Rebelo de Sousa não dissolver o Parlamento é esta: eu quero saber o que está no computador de Frederico Pinheiro. Como notou Sebastião Bugalho na CNN Portugal, a dissolução do Parlamento teria como consequência indirecta a dissolução da comissão de inquérito à TAP, o que talvez fosse óptimo para António Costa, mas seria péssimo para o país. Queremos ouvir Frederico Pinheiro. Precisamos ouvir Hugo Mendes. E pagamos para ouvir Pedro Nuno Santos. Esses serão, com certeza, momentos mais clarificadores para a democracia portuguesa do que uma nova ida às urnas.
O PS teve maioria absoluta há pouco mais de um ano e, como se viu na terça-feira, o Governo de António Costa parece o Governo de Pedro Santana Lopes, mas António Costa não é Pedro Santana Lopes. Costa mantém o poder e o título de habilidoso-mor do reino, entretendo-se a escrever peças de teatro de grande audiência enquanto tudo se desmorona à sua volta. Devia ser óptima companhia durante o terramoto de 1755. Só não lhe peçam para a seguir fazer de Marquês de Pombal, porque a sua grande vocação é para gerir destruições e não para planear construções. A desfazer — das reversões à desprivatização da TAP —, Costa é óptimo; é a fazer que se aborrece. Já aqui o disse inúmeras vezes: tanto talento político para nada.
Aquilo a que assistimos no psicodrama de 2 de Maio foi a uma versão chunga do episódio do irrevogável — o primeiro-ministro que surpreendentemente diz “não” quando todos estão à espera que diga “sim”. É um tipo de surpresa politicamente eficaz, porque toda a gente aprecia a coragem e a resiliência de quem, sozinho, parece suportar o peso de uma decisão difícil. Mas, no caso de Passos Coelho, a sua coragem era sincera e tinha substância — o Governo não podia cair a meio de um programa de ajustamento. Neste caso, é apenas cálculo político, embrulhado em mais mentiras.
O cálculo político: António Costa está farto de levar calduços de Marcelo sobre uma possível dissolução e decidiu que era o momento certo para fazer finca-pé. As mentiras: António Costa encenou um pedido de demissão com Galamba só para carregar no pathos, como ensinam as tragédias gregas; omitiu que, segundo o próprio Galamba, foi a ministra da Justiça que o aconselhou ilegalmente a envolver o SIS; e não tocou no facto de o ministro das Infra-Estruturas ter mentido deliberadamente quanto à reunião secreta que tinha tido com a CEO da TAP. O que era verdade na terça-feira continuava a ser verdade na quarta-feira: este é um governo de mentirosos e de irresponsáveis, e Galamba tem tantas condições para ser ministro como o Rato Mickey.
O que deve, então, fazer Marcelo? É simples: colocar gelo nos pulsos e deixar-se estar quieto. O tempo corre a seu favor e contra António Costa. É verdade que Marcelo se fartou de abusar das ameaças veladas de dissolução. Mas tem do seu lado o facto de sempre ter insistido que a dissolução não era para agora. E não é. Este é o momento para deixar António Costa grelhar, no Governo e na comissão de inquérito à TAP, e para aguardar pacientemente que a mais profunda natureza do PS se revele aos olhos dos portugueses. A jogada atrevida de hoje será o certificado de óbito político de amanhã.
“Ontem foi ontem, hoje é um novo dia”, disse António Costa nesta quarta-feira aos jornalistas. “Olhe para o céu, está tão bonito.” E estava realmente bonito. São assim as calmarias que antecedem todas as grandes tempestades.»
terça-feira, 2 de maio de 2023
Portugal e o processo de convergência com a União Europeia
Do discurso, no dia 18 de Abril, da Comissária Elisa Ferreira para o seminário internacional "Regional economic convergence: recent trends and challenges in the external and internal convergence of Portugal"
"Em Portugal, apenas a área metropolitana de Lisboa tem um PIB per capita (em paridades do poder de compra) próximo da média da União Europeia - embora esteja em declínio. O Algarve e a Madeira oscilam em torno dos 75% da média europeia. Mas em todas as outras regiões portuguesas, o PIB per capita é igual ou inferior a 70% da média da União. E o Norte e o Centro, apesar de apresentarem taxas de crescimento superiores à média europeia, nem por isso estão a conseguir sair da verdadeira armadilha da estagnação num nível de rendimento que as classifica como regiões atrasadas (inferior a 75%). Igualmente preocupante é o facto de, com exceção de Lisboa e do Algarve, todas as regiões portuguesas estarem a perder população".
quinta-feira, 27 de abril de 2023
terça-feira, 18 de abril de 2023
O Governo em campanha eleitoral...
Não haja nenhuma dúvida de que estamos, de facto, a entrar em campanha eleitoral. Na tentativa de deixar no esquecimento possível tudo o que de negativo este Governo e o Partido Socialista viram repercutido recentemente na opinião pública. Com a devida vénia, eis o Editorial, da autoria de Manuel Carvalho, publicado hoje no jornal "Público",
«Um breve compêndio dos anúncios do Governo este mês: IVA zero numa lista de alimentos; aumento do subsídio de alimentação e aumento salarial intercalar de 1% para a função pública; subsídios de renda e bonificação de juros no crédito à habitação; reprogramação do PRR com o acréscimo de quatro mil milhões de euros; apoio trimestral de 90 euros a famílias mais vulneráveis; reforço do abono de família; aumento de 3,57% para pensionistas; baixa de IRS garantida até 2027.
Se o catálogo que requer fôlego para acompanhar não é prova de um Governo em campanha eleitoral, algo mudou nas campanhas eleitorais. É verdade que não há eleições à vista, mas o primeiro-ministro e os seus pares seguem à letra os manuais da campanha porque sentem o terreno fugir-lhes debaixo dos pés. Precisam de reconquistar a iniciativa política. Como o pacote da habitação, que exige estudo e substância política, fracassou, como o IVA zero nos alimentos foi devorado pelo caso da TAP, António Costa tenta fazer-se ouvir com mais dinheiro.
Há uma série de indicadores que permitem ao Governo entrar neste arraial de redistribuição. O ministro das Finanças abre mão de 2000 milhões de euros de IRS até 2027 e passa um cheque aos pensionistas no valor de mil milhões de euros por ano, porque pode. A economia portuguesa dá sinais de vitalidade, as exportações seguram-se, a colecta de impostos sobe para uns absurdos 36,4% do PIB. Com tantos indicadores positivos, o Governo faz o mais simples: distribui o que arrecada a mais, sem pôr em causa o défice e a dívida.
Se juntarmos esta folga à necessidade de apoio que as famílias ou os pensionistas estão a sentir com a inflação, torna-se mais fácil de perceber que esta ofensiva de cheques do Governo é politicamente eficaz. Só que, no meio de tanta generosidade social ou fiscal, esconde-se o velho perigo do facilitismo, da navegação à vista e da ausência de futuro que tantas vezes penalizou o país.
Não há problema algum com esta ofensiva política, a não ser a sensação de que se faz, mais uma vez, o mais fácil e se subalternizam as causas profundas que amarram o país à cauda da Europa. Os apoios do Governo calam a oposição, reduzem o ruído das greves, acalmam e entretêm o país. Mas são meras folgas conjunturais que desviam as atenções das mudanças profundas na qualidade da administração, na economia ou na dinâmica da sociedade. Com tanto dinheiro, o Governo pode respirar da asfixia da TAP; mas este era o tempo ideal para as mudanças estruturais na Justiça, na Educação ou na Saúde que não cabem nas campanhas eleitorais.»
quarta-feira, 5 de abril de 2023
Há 30 anos a prometer médicos de família
Com a devida vénia, eis o muito bem documentado editorial de hoje do jornal "Público", da autoria de Andreia Sanches, sua directora-adjunta,
«Em 1991, Cavaco Silva comprometia-se no seu programa eleitoral com “a garantia do direito de cada cidadão” a “escolher o seu médico”.
Vinte anos depois, Ana Jorge, ministra de José Sócrates, lamentava no Parlamento o facto de ir falhar a meta de assegurar a todos os portugueses um médico de família. A culpa era “das reformas antecipadas” no SNS.
Em 2015, António Costa apresentava a intenção de “prosseguir o objectivo de garantir que todos os portugueses” teriam um médico de família. E em 2016, outro ministro da Saúde de um Governo socialista, Adalberto Campos Fernandes, prometeu que iria terminar o ano sem ultrapassar os “500 mil” sem médico da família.
Nunca ninguém cumpriu as promessas. Mas houve vários anos em que conseguimos ficar abaixo da fasquia de um milhão de utentes sem médico de família.
Hoje, há 1,6 milhões nessa situação.
Encontram-se considerações muito interessantes quando se percorre a história do noticiário sobre este assunto e não é só por via das promessas dos governos. Em Março de 2014, a Ordem dos Médicos divulgou um comunicado onde afirmava: “Estão a entrar na especialidade de medicina geral e familiar mais de 400 jovens médicos por ano, pelo que no prazo de quatro a cinco anos todos os portugueses terão um médico de família e, a partir daí, começará a haver médicos de família desempregados.” Foi há nove anos. A Ordem dos Médicos, que sempre achou que não faltam médicos no país além daqueles que já representa, propunha que o Governo contratasse reformados, temporariamente, até o problema se resolver. Não resolveu.
Há dias, a Associação de Estudantes de Medicina disse que se o país aumentar as vagas nos cursos, isso será terrível. As faculdades não aguentam. De resto, argumentou, “não há falta de médicos per se”. Os 1,6 milhões sem médico terão dificuldade em perceber.
Certo é que o Governo sabe que “o cumprimento da meta de cobertura de todos os inscritos no SNS por uma equipa de saúde familiar” depende mesmo de ter mais médicos. E que não basta aprovar uns cursos privados.
A constituição de um grupo de trabalho, como o anunciado esta semana, não é propriamente o desfecho mais entusiasmante de 30 anos de promessas falhadas. Mas é importante o compromisso de que até ao final do ano haverá respostas sobre como e onde, no sector público, a formação de novos médicos pode crescer.
Contudo, como muitos alertam hoje, nesta edição, se o SNS não tiver condições para reter boa parte dos jovens que acabam a especialidade, trabalho, no sector privado ou fora do país, não lhes faltará. E os centros de saúde continuarão a não dar resposta.»
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