quinta-feira, 25 de abril de 2024

A miséria continua, se é que não aumentou

«Eu não tive muitas expectativas em relação ao 25 de Abril. Para mim foi essencialmente um movimento corporativo, ditado, em parte, pelo cansaço, no Corpo de Oficiais, em relação à guerra. Um movimento com o qual o governo de Marcelo Caetano não soube lidar, ora concedendo, ora reprimindo, de forma indecisa, contraditória e pouco eficaz.

Para mim e para os que, nos anos sessenta, acreditávamos num projecto de nação plurirracial e pluricontinental, pela qual tinham combatido e morrido alguns dos nossos amigos, para os que éramos e somos, antes do mais, nacionalistas, o 25 de Abril foi o fim desse ideal, desse projecto, do que agora nos aparece como uma utopia. Por isso não tínhamos muitas expectativas.

Mas o geral dos portugueses, que acreditaram na letra das promessas de Abril, esperavam, com o fim do regime autoritário e a chegada da democracia política, uma sociedade mais justa, uma vida melhor, para eles e para os seus filhos. Cinquenta anos passados, não creio que devam estar muito contentes.

A miséria continua, se é que não aumentou; e sobretudo, há cinquenta anos, esperava-se uma vida melhor para as novas gerações na maioria das famílias. Hoje, os filhos têm a expectativa de uma vida mais difícil e pior do que a dos pais. Os salários mínimos e médios são dos mais baixos da Europa e os serviços públicos entraram em crise, mesmo o Serviço Nacional de Saúde, que chegou a ser das poucas excelências do país e do regime.

Não temos censura prévia, mas poucas vezes se viu uma tão grande uniformidade de opiniões em tudo o que tem alguma importância, em política externa ou interna. E a dissidência, que dantes era interdita, continua a sê-lo, embora por processos mais sofisticados e sob a aparência de pluralidade.

Mas como, para o mal e para o bem, acabamos sempre por sofrer a influência da Europa, a nova vaga nacionalista, mais conservadora ou mais popular, já aí está e pode vir a trazer algum equilíbrio.

Quanto às novas gerações, não tenho idade nem procuração para falar por elas. Mas, a julgar pelas indicações da sociologia eleitoral, creio que as novas gerações são mais livres da propaganda do regime e da sua influência, que é muito televisiva. Vejo isso também pelo contacto que vou tendo, em termos pessoais. Apesar dos dispositivos orwellianos que, com o aproximar do meio século do golpe militar, se concentram em pintar os horrores do regime e o PREC como um período revolucionário, heroico e generoso, vejo que muitos dos mais novos – pelo menos os que têm alguma independência – não se deixam enganar e são críticos.

Isso deixa-nos a nós, mais velhos, uma certa esperança, sobretudo aos que sempre procurámos preservar um juízo objectivo da História e das realidades das coisas e nunca nos importámos muito de ser uma minoria marginalizada.»

(Artigo de opinião do politólogo Jaime Nogueira Pinto, publicado no jornal "Ionline" do dia 23/04/2024)

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Os "retornados"

Transcrição, com a devida vénia, do artigo de opinião de hoje da autoria de Francisco Sarsfield Cabral,

«Meses depois da revolta militar que derrubou o antigo regime, vagas de ex-colonos desembarcaram em Lisboa, fugindo de uma situação de guerra civil em África. Receou-se uma catástrofe, mas as coisas correram melhor do que se esperava.

Quando se tornou claro que a revolta de 25 de abril alcançara o seu objetivo primordial – acabar com as guerras coloniais – muitos militares que estavam em serviço nas colónias não quiseram continuar a combater. Tornou-se, assim, inviável uma descolonização negociada.

Aliás, descolonizar como fizeram outros países europeus deveria ter sido uma operação realizada pelo anterior regime. Só que isso era impossível, perante a ficção que esse regime sustentava em matéria colonial.

Por isso a descolonização que se seguiu ao 25 de abril não foi programada nem pensada. Mas não houve em Portugal qualquer choque. As colónias africanas só muito recentemente tinham recebido colonos em alguma quantidade, pelo que as autoridades portuguesas controlavam apenas uma faixa litoral.

Logo após a independência, em Angola e depois em Moçambique iniciaram-se violentas guerras civis. Daí que meses depois do 25 de abril, vagas de ex-colonos desembarcaram em Lisboa, fugindo de uma situação de guerra, agora civil, nas colónias africanas.

A maior parte vinha quase só com a roupa que tinha no corpo. Alguns acolheram-se junto de familiares; muitos outros foram provisoriamente instalados pelo Estado em hotéis requisitados para esse efeito.

Num país em crise económica, além da crise política, a vinda de cerca de 600 mil “retornados” parecia constituir uma catástrofe. Os “retornados” passaram tempos muito difíceis, claro, mas a médio prazo não só lograram uma integração pacífica na sociedade portuguesa, como deram um apreciável contributo económico a uma economia semi-paralizada que desprezava a iniciativa privada.

Passados cinquenta anos, os “retornados” não representaram em Portugal um problema semelhante ao que, em França, os ex-colonos da Argélia trouxeram para o território francês. Foi um sucesso inesperado.»

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Portugal lidera o consumo diário de álcool


O consumo diário de álcool parece ser mais comum à medida que se avança para o sul da Europa. Portugal tem, de longe, a maior percentagem de consumidores diários de álcool, 21,4%. Noutros países mediterrânicos, como Espanha (13,5%), Itália (12,4%), França (10,4%) e Croácia (10,4%), existe também uma percentagem relativamente elevada da população que consome álcool todos os dias. A Bélgica (10,1%) e a Dinamarca (10,0%) são os únicos países, fora da metade sul da Europa, onde 10% ou mais consomem álcool diariamente.

A Turquia (0,5%) e a Lituânia (0,8%) são os únicos países da Europa onde menos de 1% dos adultos consomem álcool todos os dias. Na maioria dos países nórdicos e bálticos, essa percentagem é também muito baixa.

É interessante sobrepor este mapa com um mapa de mortes relacionadas com o álcool. A Letónia e a Polónia podem ter algumas das percentagens mais baixas de consumidores diários de álcool, mas têm também algumas das taxas de mortalidade mais elevadas relacionadas com o álcool. O contrário acontece em muitos países do sul da Europa.

Os dados para este mapa provêm do Eurostat.

sexta-feira, 12 de abril de 2024

Auguste Feyen-Perrin

François Nicolas Augustin Feyen, conhecido como Auguste Feyen-Perrin (12 de Abril de 1826, Bey-sur-Seille - 14 de Outubro de 1888, Paris) foi um pintor, gravador e ilustrador francês. Ele adicionou o nome de solteira de sua mãe a Feyen para ajudar a distinguir-se de seu irmão mais velho, Jacques-Eugène Feyen, que já era um artista conhecido quando Auguste tinha apenas quinze anos.



A Lição de Anatomia do Dr. Velpeau, na Charité