Porque na Vida há maus e bons momentos. Porque no dia-a-dia há acontecimentos que nos afectam positiva ou negativamente.
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segunda-feira, 14 de dezembro de 2020
quarta-feira, 30 de outubro de 2019
segunda-feira, 23 de julho de 2018
Escândalo: “Os Maias” deixaram de ser leitura obrigatória no liceu
Da crónica de Alberto Gonçalves, intitulada "Sete dias na selva", publicada no dia 21 último no jornal online "Observador", o excerto relativo ao assunto em título. Com a devida vénia,

segunda-feira, 19 de março de 2018
Neste "Dia do Pai", recomeça...
Recomeça....
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...
Poema intitulado "Sísifo", da autoria de Miguel Torga (Diário XIII)
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças...
Poema intitulado "Sísifo", da autoria de Miguel Torga (Diário XIII)
quinta-feira, 27 de julho de 2017
A biblioteca privada de Fernando Pessoa está disponível gratuitamente na internet
A biblioteca pessoal do escritor podia apenas ser consultada na "Casa Fernando Pessoa", mas agora já é possível encontrar todo o acervo online, constituído por 1142 livros.
As obras podem ser pesquisadas por ano, por ordem alfabética e por categorias temáticas e é também possível encontrar algumas páginas com manuscritos do próprio Pessoa.
Todas as páginas dos volumes e manuscritos foram digitalizados e podem ser consultados, página a página, ou após o download completo de uma obra.
quinta-feira, 13 de abril de 2017
Samuel Beckett
A Vida é um Hábito
(Samuel Beckett, em "À espera de Godot")
«O hábito é o balastro que prende o cão ao seu vómito. Respirar é um hábito. A vida é um hábito. Ou melhor, a vida é uma sucessão de hábitos, porque o indivíduo é uma sucessão de indivíduos [...] «Hábito» é pois o termo genérico para os inúmeros contratos celebrados entre os inúmeros sujeitos que constituem o indivíduo e os seus inúmeros objectos correlativos. Os períodos de transição que separam as consecutivas adaptações [...] representam as zonas perigosas na vida do indivíduo, perigosas, penosas, misteriosas e férteis, em que, por um momento, o tédio de viver é substituído pelo sofrimento de ser.»
(Samuel Beckett, em "À espera de Godot")
Samuel Barclay Beckett, romancista e dramaturgo irlandês, nasceu a 13 de Abril de 1906 na cidade de Dublin.
Em 1923 Samuel Beckett ingressou no Trinity College de Dublin, para se formar em Literatura Moderna, especializando-se em francês e italiano. Em 1928, meses após a sua mudança para Paris, conheceu James Joyce, apresentado por um amigo em comum. Tornou-se grande admirador do escritor e a sua obra posterior foi fortemente influenciada por ele.
Beckett escreveu indistintamente em inglês e em francês. "Murphy", escrito em 1938, foi o primeiro dos seus romances. Nele explora a impotência e a alienação da consciência individual contemporânea.
As personagens beckettianas, que tendem para a imobilidade e para o silêncio, reduzem-se gradualmente à condição de objectos. Escreve numa linguagem fragmentária, de tom irónico e distante. A sua obra de maior êxito, "À espera de Godot" ("En attendant Godot"), de 1952, é considerada uma obra-prima do teatro do absurdo.
Samuel Beckett recebeu o "Prémio Nobel da Literatura" em 1969.
Beckett morreu em Paris, a 22 de Dezembro de 1989, vítima de enfisema pulmonar, contra o qual lutava havia já três anos. Foi sepultado no cemitério de Montparnasse.
Beckett escreveu indistintamente em inglês e em francês. "Murphy", escrito em 1938, foi o primeiro dos seus romances. Nele explora a impotência e a alienação da consciência individual contemporânea.
As personagens beckettianas, que tendem para a imobilidade e para o silêncio, reduzem-se gradualmente à condição de objectos. Escreve numa linguagem fragmentária, de tom irónico e distante. A sua obra de maior êxito, "À espera de Godot" ("En attendant Godot"), de 1952, é considerada uma obra-prima do teatro do absurdo.
Samuel Beckett recebeu o "Prémio Nobel da Literatura" em 1969.
Beckett morreu em Paris, a 22 de Dezembro de 1989, vítima de enfisema pulmonar, contra o qual lutava havia já três anos. Foi sepultado no cemitério de Montparnasse.
terça-feira, 21 de março de 2017
O Dia Mundial da Poesia e a loja "Starbucks" de Gaia
Claro, nada têm a ver, o "Dia" com a "loja". Apenas que, por mera coincidência, neste "Dia Mundial da Poesia" fiquei a conhecer a loja/café "Starbucks" de Vila Nova de Gaia, situada no edifício do "El Corte Inglés".
Fiquei ciente que não é a minha "praça"... Definitivamente. Mas,

Nos cafés espero a vida
Que nunca vem ter comigo:
- Não me faz nenhum castigo,
Que o tempo passa em corrida.
.../...
(Do poema "Cinco Horas" de Mário de Sá-Carneiro)
sexta-feira, 17 de março de 2017
António Lobo Antunes, "Prémio Vida e Obra de Autor Nacional" de 2017, da SPA
A cerimónia de entrega do "Prémio Vida e Obra de Autor Nacional", de 2017, da Sociedade Portuguesa de Autores, teve lugar há dois dias, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém. Vale mesmo a pena escutar o comentário de António Lobo Antunes. Até ao fim.
quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017
Fernando Assis Pacheco
Fernando Santiago Mendes de Assis Pacheco, jornalista, crítico, tradutor e escritor português, nasceu no dia 1 de Fevereiro de 1937 em Coimbra.
Licenciado em Filologia Germânica pela Universidade de Coimbra, Fernando Assis Pacheco nunca conheceu outra profissão que não fosse o jornalismo. Deixou a sua marca de grande repórter no "Diário de Lisboa", no "República", no "JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias", no "Musicalíssimo" e no "Se7e", onde foi director-adjunto. Foi também redactor e chefe de redacção de "O Jornal", semanário onde durante dez anos fez crítica literária. Foi também colaborador da RTP. Traduziu para português obras de Pablo Neruda e de Gabriel García Márquez.
Fernando Assis Pacheco faleceu a 30 de Novembro de 1995, à porta da Livraria Buchholz.
sexta-feira, 4 de novembro de 2016
O futuro da medicina

(João Lobo Antunes, em "Ouvir Com Outros Olhos", Editora Gradiva, 2015)
segunda-feira, 31 de outubro de 2016
Carlos Drummond de Andrade (2)
Carlos Drummond de Andrade, escritor brasileiro, nasceu no dia 31 de Outubro de 1902 em Atabira do Mato Dentro, Minas Gerais.
De família rural, Carlos negou-se a continuar a tradição de fazendeiros... Concluídos os estudos secundários em Nova Friburgo, regressou a Minas, começando a colaborar em jornais e revistas. Em Belo Horizonte concluiu o curso de Farmácia, mas nunca veio a exercer a profissão.
Professor de Português e Geografia em Itabira, em 1926 Carlos Drummond de Andrade vai, pouco depois, para Belo Horizonte como promotor do movimento modernista mineiro. Foi um dos directores de "A Revista" e redactor dos jornais "Diário de Minas", "Minas Gerais", "Estado de Minas" e "Diário da Tarde".
No Rio de Janeiro, onde se fixou em 1934, Carlos Drummond de Andrade exerceu altos cargos no Ministério da Educação. Foi chefe do gabinete do ministro da Educação (1934-1945) e chefe da Secção de História no Serviço do Património Histórico e Artístico Nacional. Na então capital federal, foi co-director do "Tribunal Popular" e redactor do "Correio da Manhã".
Carlos Drummond de Andrade estreou-se, em 1930, com o volume "Alguma Poesia". Atingiu o auge da sua carreira poética com "Poemas" (1959). Cronista, ficcionista e, principalmente, poeta, é um dos maiores se não mesmo o maior vulto do modernismo brasileiro e um dos grandes poetas de língua portuguesa. Espectador atento dos acontecimentos, comenta-os de um modo gracioso, pondo em relevo o que neles há de autenticamente humano.
Poeta sintonizado com as mais profundas inquietações que atormentam o homem quanto ao sentido último da vida, Carlos Drummond de Andrade disfarça esta pungente simpatia humana com uma poesia humorada, não raro irónica e até sarcástica.
Carlos Drummond de Andrade faleceu no Rio de Janeiro, a 17 de Agosto de 1987, por enfarte do miocárdio.
sábado, 29 de outubro de 2016
"O meu irmão João", crónica de António Lobo Antunes
«É talvez a pessoa que conheço melhor no mundo e todavia quase não falamos. Para quê? São desnecessárias as palavras entre nós, passámos mais de vinte anos, acho eu, no mesmo quarto, num silencioso princípio de vasos comunicantes que até hoje se mantém. Para além do muito amor que raramente lhe manifestei tenho uma imensa admiração por ele e um orgulho sem limites. Herdou do nosso pai (herdaste do pai, sim, tem paciência) a honestidade, o carácter, a coragem e o horror à mentira. Desde criança foste sempre valente. Se assim à má fila me ordenassem que dissesse duas características tuas respondia logo a valentia e o pudor, formas supremas da elegância. E isto desde que te conheço, tu que nasceste vinte meses depois de mim
(o número vinte deu-lhe para me perseguir hoje)
que era cobarde e despudorado e custou-me tanto ver-me livre dessa ganga nojenta, zangado de vergonha comigo. Foste sempre digno e discreto contigo mesmo e com os outros e bem sei, sem mo teres dito, as dificuldades e as dores que sofreste, a carne viva que escondes e eu vejo, a compaixão que não mostras e eu sinto. E a tua oculta e bondosa generosidade. O rigor também, a falta de complacência para com a ingratidão, a pulhice, os sentimentos rasteiros. Claro que tens defeitos: alguns divertem-me, outros enternecem-me, nenhum me incomoda, talvez por serem os defeitos das tuas qualidades da mesma maneira que um automóvel possui os travões adequados à potência do motor. Se fosse Deus não mudava grande coisa em ti: talvez trocasse um móvel de posição, alterasse uma jarra, substituísse um quadro. Na casa não mexia: agrada-me que seja como é. E depois claro que te foi dada uma inteligência superior e isso não vale a pena mencionar porque no meu caso não me serve de nada, ninguém é tão estúpido como um homem inteligente e muitas das asneiras que fiz conhece-las de ginjeira. Lembras-te da mãe
- Tão inteligentes para umas coisas, tão estúpidos para outras mas eu canalizei tudo para a escrita, construí-me para isso e os teus interesses são mais variados que os meus. E no meio disto somos tão ingénuos ambos, sensíveis à lisonja, por vezes completamente parciais, cegos em relação aos amigos, de julgamento turvado quando os afectos se misturam nele. É curioso como, sendo diferentes, temos coisas idênticas. O pai não queria filhos, queria campeões de karaté. Conseguiu-os e o preço disso foi uma parte nossa amputada e uma sede de amor sem limites, em ti cuidadosamente escondida. A gaita é que eu sou desbocado e tu não, vivo nas nuvens e tu só às vezes, porque eu vivo nas nuvens e das nuvens e tu tens de confrontar-te com uma realidade imediata que te dá um peso específico maior que o meu e uma relação necessariamente pragmática com certos aspectos do quotidiano. Estou para aqui a escrever isto e a pensar na educação que recebemos, normativa, implacável, no limite da impiedade e da dureza. Quantas vezes nos revoltámos contra ela e, no entanto, que importante foi. Um pai que competia connosco e, mais tarde, te invejava. É terrível a relação do filho com o pai, julgando-se mutuamente numa ferocidade sem doçura. Nunca foi doce. Nem tolerante. Que egoísmo horrível naquele homem. E por baixo disso tudo uma vaidade em nós, ou antes uma vaidade nele dado imaginar (a imaginação não era o seu forte, nem o sentido de humor, nem a criatividade) que nos havia feito peça a peça e não fez. Não nos poupava mas poupava-se a si. Dito desta forma parece que lhe quero mal. Não quero. Só que não me acho em dívida: o preço foi alto. Levou a vida que quis, como quis, e impunha-nos à força a sua vontade. É curioso, João: dá-me pena que tenha morrido. Movia-se por paixões, entusiasmava-se e gostava de nós através das nossas filhas por lhe ser impossível amar-nos abertamente.
E contudo, mau grado o que acabo de dizer, não duvido do seu amor e de um orgulho genuíno nos filhos, que fazia os possíveis por disfarçar. Estou a ser injusto, de longe em longe descuidava-se. E apesar do que afirmo, gaita, era, é o nosso pai. Não esqueço as palavras de Herculano a propósito de Garrett que ele repetiu dúzias de ocasiões ao longo dos anos
- Por meia dúzia de moedas o Garrett é capaz de todas as porcarias, menos de uma frase mal escrita
ou da ordem de Filipe Segundo ao arquitecto do Escorial
- Façamos qualquer coisa que o mundo diga de nós que fomos loucos
e como esses dois preceitos se gravaram na gente. Isto foi importante para além do que declarei a teu respeito e herdaste dele de facto: a honestidade, o rigor e a coragem. É bom ser filho de um homem desta têmpera e essas qualidades nasceram contigo. Talvez com outro pai houvesses sido igual, não sei. Capaz de todas as porcarias menos de uma frase mal escrita: para mim foi um tiro na mouche. Em cheio.
E estou-lhe grato por isso. Estou-lhe grato também pelos irmãos que foram aparecendo, a chorarem como uns danados até aos dois anos, raios os partam. À mãe igualmente claro, de quem a avó nos dizia
- Vocês matam a vossa mãe
numa convicção que me confundia. Via-nos a apunhalá-la com a faca do pão, a da serrilha grande, e ela a torcer-se na cozinha. Felizmente sobreviveu à faca e segue viva da costa. Agora, há uma semana, sucedeu aquilo do Pedro e de novo te admirei, mano, a tua eficiência, a tua capacidade de decisão, o teu valor, a rapidez pragmática do teu afecto, eu que de pragmático, pobre de mim, nada tenho. Quando acabaste de operá-lo apeteceu-me beijar-te. Claro que não beijei mas sabes que beijei: és o meu irmão João. Aquele a quem me une um silencioso princípio de vasos comunicantes. E com que alegria repito isto dentro de mim: o meu irmão João. O meu irmão João para sempre.»
(Artigo publicado na revista "Visão" de 15 de Setembro de 2008)
domingo, 23 de outubro de 2016
"Amigo" - Poema de Alexandre O'Neill

Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».
«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!
«Amigo» é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.
«Amigo» é a solidão derrotada!
«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!
(Poema de Alexandre O'Neill, em "No Reino da Dinamarca")
quarta-feira, 19 de outubro de 2016
Homenagem a Vinícius de Moraes no dia do seu nascimento em 1913
Vinícius de Moraes, nascido Marcus Vinitius da Cruz de Belo de Moraes, diplomata, poeta, dramaturgo, jornalista, cantor e compositor brasileiro, nasceu no dia 19 de Outubro de 1913 na cidade do Rio de Janeiro.
Vinícius de Moraes graduou-se, em 1933, em Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito do Catete, hoje Faculdade Nacional de Direito, e estudou língua e literatura inglesa na Universidade de Oxford (1938-1939).
As primeiras obras literárias de Vinícius de Moraes foram "O Caminho para a Distância" (1933) e "Forma e Exegese" (1935). A sua peça teatral "Orfeu da Conceição", premiada em 1954, no IV Centenário da Cidade de S. Paulo, serviu de base a um filme que em 1959 conquistou o 1.º prémio no Festival de Cannes. Nas suas composições musicais, pertencentes ao movimento da bossa nova, sobressaem "A Garota de Ipanema" e "A Felicidade".
Vinícius de Moraes casou por nove vezes: "o poeta teve paixões intensas que duravam a eternidade do momento".
Vinícius de Moraes faleceu no dia 9 de Julho de 1980. Foi sepultado no Cemitério de São João Batista no Rio de Janeiro.
As primeiras obras literárias de Vinícius de Moraes foram "O Caminho para a Distância" (1933) e "Forma e Exegese" (1935). A sua peça teatral "Orfeu da Conceição", premiada em 1954, no IV Centenário da Cidade de S. Paulo, serviu de base a um filme que em 1959 conquistou o 1.º prémio no Festival de Cannes. Nas suas composições musicais, pertencentes ao movimento da bossa nova, sobressaem "A Garota de Ipanema" e "A Felicidade".
Vinícius de Moraes casou por nove vezes: "o poeta teve paixões intensas que duravam a eternidade do momento".
Vinícius de Moraes faleceu no dia 9 de Julho de 1980. Foi sepultado no Cemitério de São João Batista no Rio de Janeiro.
sábado, 15 de outubro de 2016
António Lobo Antunes e a Ordem dos Médicos
O artigo de opinião de João Lobo Antunes, intitulado "A Ordem dos Médicos", publicado na revista "Visão" do passado dia 13. Com a indispensável vénia:

– Que você tenha chegado ao sexto ano não me espanta. O que me surpreende é como é que fez a quarta classe.
Quando eu acabei o curso os bastonários da Ordem eram pessoas acima da média. Lembro-me, por exemplo, do Professor Miller Guerra, do Professor Machado Macedo, tantos outros. A mesma coisa para as secções Regionais, a mesma coisa para as pessoas que ocupavam outros cargos. A Ordem tinha muito prestígio. Depois essas pessoas invulgares foram desaparecendo e a Ordem, tomada de assalto por mulheres e homens de craveira intelectual e científica em regra medíocre, deixou de contar com o poder e a influência efectiva que durante tantos anos foram seus. Não tem importância alguma e ninguém a ouve. Os sindicatos médicos, que me parecem outro falhanço, nasceram um pouco disto e também do desejo dos partidos políticos tomarem conta, para seu uso, da importância social da Profissão. Morreram lentamente com a evolução natural dos tempos e o resultado foi a irreversível desagregação da classe. Seria muito importante uma Ordem forte, naturalmente impossível com dirigentes fracos. Criaturas não médicas foram ocupando os lugares dos clínicos. Quando comecei o Director do Hospital era um médico e o administrador hospitalar um auxiliar seu, com uma autonomia restrita. Agora são os administradores que detêm a autoridade e os Directores dos hospitais passaram a Directores Clínicos, ou seja meros adjuntos. Os administradores nada sabem de Medicina. Saberão, quando muito, dirigir empresas e os hospitais são tudo menos empresas. Fui director, durante anos, de uma Clínica Psiquiátrica importante, pertencente a uma Ordem Religiosa. Acabei por os mandar à merda porque quem, de facto, dirigia a Instituição era um administrador incompetente que se limitava a obedecer à Irmã Superiora que punha e dispunha, marcava reuniões, distribuía tarefas, exercia uma autoridade ditatorial. Em certa altura propus a contratação de um médico. A dita Irmã respondeu-me
– Que horror, um preto nem pensar
o que revela bem o seu espírito ecuménico. Uma mulher de Deus que diz isto é uma besta e não merece usar um crucifixo ao peito: merece um pontapé no cu. Se não morreu ainda lá deve estar, a exigir aos médicos internamentos mais curtos porque
– A gente precisa de dinheiro
e claro que a qualidade dos cuidados prestados era má. Não tornei a pôr-lhes a vista em cima a não ser, muitos meses mais tarde, em tribunal por causa do exame médico--legal a uma pessoa internada. A Superiora da Casa e o Administrador vieram estender-me a mão. Mandei-os para o outro canto da sala de espera a fim de que os dedos me não saltassem da algibeira
(às vezes saltam, é uma maçada)
E aqueles energúmenos desapareceram-me da frente. Estes racistas que estariam bem no Ku Klux Klan ou trabalhando para alguns fazendeiros que conheci em África, deram à sola que foi uma beleza. Penso que toda essa choldra continua a exercer na Clínica, formando um bando de idiotas sem carácter, que vão à missa, comungam e julgam estar de bem com Deus. O meu pai, que foi médico numa outra Casa da mesma Ordem classificava a dita freira de
– Um estupor
Ordem religiosa que teve ao seu serviço mulheres excepcionais e alguns clínicos excelentes, no tempo em que os médicos ainda detinham alguma autonomia.
E nisto lembrei-me de um cirurgião a falar-me do Serviço de Urgências de certo hospital muito conhecido
– O doente entrou bem mas depois sobreveio-lhe o Banco e morreu.
E de facto, em muitos casos, um hospital é um lugar perigoso. Como se pode alterar isto com a burocracia que, actualmente, rege a saúde dos portugueses? Entre outras coisas com uma Ordem forte, com capacidade de bater o pé, de dialogar, de exigir também. Se nem o Estado Novo ousou incomodar muito o Professor Miller Guerra por causa do célebre Relatório das Carreiras Médicas não seria este Estado de Direito a fazê-lo. Nem com o dr Portas, um espertalhão oportunista, nem com o dr Passos Coelho, um medíocre, nem com o dr António Costa que considero um Primeiro Ministro decente
(já não era sem tempo)
e poderia certamente contar com o apoio do Presidente da República que, apesar das limitações do seu cargo, tem a estima e o respeito da generalidade dos portugueses, e é capaz de intervenções que se lhe afigurem justas. Uma Ordem credível com dirigentes credíveis, porque existem, de certeza, médicos de muito bom nível, e talvez não seja difícil mobilizá-los se a chamada for firme e convincente. E assim talvez se acabassem com as infinitas patetices de uma Ordem que nem gramática sabe. Voltando à frase do Professor da Faculdade de Medicina será que os actuais licenciados terão completado a quarta classe? Qualquer dia ponho a carta aqui na Visão e vocês julgam ao lê-la. Só tenho pena de não ter uma carta de nenhum administrador hospitalar para julgar eu também.»
domingo, 2 de outubro de 2016
A elite viu-se ao espelho e não gostou, diz José António Saraiva
Do artigo de opinião de José António Saraiva, intitulado "A elite viu-se ao espelho e não gostou", publicado no jornal "Sol" de ontem, com a devida vénia:
«Não me lembro de um livro em Portugal suscitar tamanho abalo nos meios políticos e jornalísticos. E confesso que nunca pensei que este livro pudesse despertar tanta raiva. Curiosamente, políticos e jornalistas, que em geral estão em campos diferentes, deram as mãos para me lançarem uma fatwa e me exporem ao «opróbio público». Nem os atentados terroristas foram repudiados de forma tão unânime.
Nestas questões, é usual dizer-se: «Não li o livro e portanto não me pronuncio sobre ele». Mas aqui passou-se o contrário. Disse-se: «Não li o livro mas mesmo assim digo mal dele». Pessoas que reconheceram não o ter sequer aberto chamaram-lhe «vómito», «esgoto», «lixo», «nojo», «abjeção», «pestilência», «asco», etc. Tudo palavras simpáticas.
Mas, tanto quanto sei, nenhum dos protagonistas desmentiu o que o livro relata. Portanto, pergunto: a ‘pestilência’ estará no livro ou na realidade que ele desvenda? O que indignou muita gente foram as ‘indiscrições’ do livro ou o facto de este destapar uma realidade que se quereria escondida? Se calhar, como diria Eça, o livrou retirou «o manto diáfano da fantasia» e mostrou «a nudez forte da verdade».
.../...Fizeram-se debates nas televisões para discutir o livro, ou melhor, para insultar o autor, pois os participantes declaravam não ter lido o livro nem o irem ler. Cada crónica que saía na imprensa era mais terrível do que a anterior.
Houve jornalistas que desmarcaram entrevistas ou pré-publicações já combinadas, declarando-me proscrito. Outros telefonaram-me cheios de mesuras, falei-lhes confiadamente e depois construíram a partir dessas conversas textos carregados de ofensas. Uma revista pediu-me uma entrevista, abri-lhe as portas de casa, e acabou a chamar-me «traidor» e autor de um «crime».
Claro que tudo isto provocou uma corrida às livrarias. Nalgumas formavam-se filas para comprar o livro. Noutras, onde estava esgotado, havia longas listas de reservas. Todos os dias começaram a imprimir-se novas edições.
.../... No livro, procurei usar uma linguagem correta, embora crua e despojada, como convém a este tipo de livros. Mas o nível de linguagem dos meus críticos desceu a abismos raramente vistos. A crítica ao livro foi substituída pelo insulto grosseiro ao autor. Com isso, porém, só conseguiram aumentar a visibilidade do livro e torná-lo um best seller. Foi a melhor campanha de publicidade que o livro poderia ter tido. Nem o maior génio do marketing teria imaginado melhor…
Assim, paradoxalmente, os que pretenderam silenciar-me acabaram por me ampliar a voz. Os que gostariam de queimar o livro acabaram por projetá-lo para os tops, multiplicando as edições.
E o escândalo, constrangendo-me, acabou por ser bom porque chamou a atenção para um livro importante. Podem discutir-se três ou quatro coisas, eu próprio aqui e ali tive dúvidas, mas o essencial é a liberdade com que foi escrito e que pode constituir um exemplo.
.../... houve uma coisa que, talvez mais do que qualquer outra, contribuiu para o rejeição violenta que o livro provocou em certos meios: ele acaba por revelar uma elite que não gostou de se ver ao espelho. A elite política e jornalística portuguesa viu-se ao espelho nas páginas do livro e não gostou do que viu.
.../... percebo que Eu e os Políticos seja visto como um fresco da nossa elite pós-25 de Abril.
E o facto de o livro ser sereno e objetivo irritá-la-á ainda mais. Nele não insulto ninguém, não chamo nomes a ninguém, quase me limito a descrever situações que vivi, não as comentando ou fazendo-o com sobriedade. Assim, o ‘mal’ que muita gente viu no livro estará afinal na realidade que ele retrata.
Pelo que poderá dizer-se que, num efeito de boomerang, as críticas mais violentas ao livro acabaram por desabar sobre quem as fez.»
sexta-feira, 23 de setembro de 2016
José António Saraiva reage à capa da revista "Sábado"
«Esta semana, um jornalista experiente escreveu o seguinte: «O que José António Saraiva faz em Eu e os Políticos não é imoral, é bem pior do que isso: o seu livro – chamemos-lhe assim – é um triste tratado de amoralidade assinado por um homem capturado pela raiva e algemado pelo desejo cego de vingança em relação a duas pessoas que odeia: Emídio Rangel e Paulo Portas. Para consumar o crime, viola sem pudor conversas privadas que terá mantido com familiares dos seus alvos, ambos entretanto mortos. Para o disfarçar, estende a traição às fontes que durante mais de três décadas lhe confiaram segredos na convicção de que se encontravam perante um jornalista decente. Enganaram-se: quem conhece José António Saraiva sabe que ele é, há muitos anos, um alienígena solitário que habita num corpo estranho em que cérebro e umbigo se fundem, numa devassa egocêntrica que, se não fosse perigosa, era apenas ridícula. José António Saraiva é um perigo porque há quem ainda o leve a sério».
O JORNALISTA que escreveu isto foi o mesmo que, dois dias antes, me tinha enviado o seguinte email:
«Tenho de lhe dizer que foi um prazer conhecê-lo. Na verdade já o tinha entrevistado anteriormente para o programa Clube de Jornalistas, mas tinha uma co-entrevistadora (a Ana Sá Lopes) e houve muita distância. Estar a alguns centímetros de si, poder olhá-lo nos olhos e ter uma conversa dura, mas leal, consigo foi uma experiência muito boa. Leio-o há muitos anos. Não concordo sempre com o que escreve, mas não sou dos que pensam que é possível alguém manter-se no topo durante tanto tempo sem que possua algo que o diferencie. Respeito-o por isso».

Este é um dos guardiões da moral, que me têm atacado como coiotes. Por ter escrito um livro de memórias onde, numa linguagem correcta e objectiva, pouco adjectivada, descrevo bastidores da política e dos seus protagonistas. Não insulto ninguém. Respeito a verdade. Ora, às verdades que escrevi respondem com insultos. A maioria não leu o livro mas tem opinião sobre ele.
MAS há mais.
Esse jornalista que acha que poucos me levam a sério pertence a uma revista que me colocou esta semana na capa, como assunto principal. Em que ficamos? A revista oferece a capa a uma pessoa que não se deve levar a sério? Foi uma capa feita a brincar com os leitores?
Nessa capa, ocupada por uma grande foto minha, o título era: A traição de Saraiva a 37 políticos. Eu também poderia considerar-me traído pela revista, a quem abri as portas de casa. Mas não é disso que quero falar.
Mandam as regras que, quando se convida uma pessoa para uma grande entrevista, e se lhe dá capa, o título seja uma frase do entrevistado. Sempre foi assim. Enquanto fui director do Expresso e do SOL, eu tinha um código até mais rigoroso: não se atacava alguém com base em declarações feitas ao nosso jornal. Era uma regra de cavalheirismo. Se alguém depositara confiança em nós para nos conceder uma entrevista, não devíamos trair essa confiança atacando-o nas nossas páginas.
Dir-se-á: a revista fez a Saraiva o que ele fez a muita gente. Sucede que isso não é, pura e simplesmente, verdade.
Há uma diferença fundamental entre um texto jornalístico e um livro de memórias. As regras são outras, os objectivos são outros, o tom é outro, a exposição é outra. Até porque, nas memórias, há um tempo (às vezes décadas) de intervalo entre os factos relatados e a sua publicação. Neste livro, revelo ‘segredos’ que guardei religiosamente durante 40, 30, 20 anos. E que publico numa circunstância completamente diferente.
As pessoas com quem falei já não estão nos mesmos lugares e a conjuntura mudou.
Acresce que um livro não é uma revista nem um jornal. Tem uma circulação restrita. É um meio recatado. A tiragem inicial foi de 1500 exemplares. E acabou por ter uma repercussão gigantesca porque os mesmos jornalistas que me acusam de revelar certos segredos os escarrapacharam nas páginas dos seus jornais, dando-lhes uma inesperada publicidade. Alguns episódios mais sensíveis, que propositadamente não usei nos materiais promocionais ou na contracapa, foram estampados com foros de escândalo.
E HÁ MAIS ainda. As revelações que fiz nestas memórias têm interesse para a história de Portugal pós-25 de Abril. No livro descrevem-se factos relevantes contados pelos próprios protagonistas. E há retratos que ajudam a penetrar na intimidade (não confundir com sexualidade) de grandes actores políticos: Eanes, Mário Soares, Cavaco Silva, Álvaro Cunhal, José Sócrates. Numa linguagem serena e despojada. Nem sempre as revelações são simpáticas para os próprios? Mas nem sempre as verdades são cómodas….
Ora o que a revista me fez a mim foi um ataque pessoal, sem qualquer interesse público, com o único objectivo de me ofender. A diferença é esta. E entre a confiança que depositei na revista, aceitando dar-lhe a entrevista, e o ataque que ela me fez, não mediaram 40 anos, nem 30, nem 20. Mediaram 3 dias.
São estes os guardiões da moral. Que não queimam Eu e os Políticos em auto de fé porque não podem. Se pudessem, fariam uma pira com livros na Praça do Rossio e pegar-lhe-iam um fogo purificador.
P.S. – Ao contrário da capa, a edição da entrevista no interior da revista é honesta, e as perguntas, embora duras, foram feitas com frontalidade e não de forma capciosa.»
(Artigo de opinião de José António Saraiva, intitulado "José António Saraiva reage à capa da Sábado", publicado no "Jornali" de ontem)
quarta-feira, 7 de setembro de 2016
Camilo Pessanha
Não Sei se Isto é Amor
Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.
Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos cânticos.
Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.
Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro a olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.
Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.
Camilo Pessanha, in "Clepsidra"
Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.
Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos cânticos.
Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.
Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro a olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.
Eu não sei se é amor. Será talvez começo...
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.
Camilo Pessanha, in "Clepsidra"
(Camilo de Almeida Pessanha, poeta português, considerado expoente máximo do simbolismo em língua portuguesa, nasceu no dia 7 de Setembro de 1867 em Coimbra).
quinta-feira, 21 de julho de 2016
O Professor Sampaio da Nóvoa e os três graus da "gratidão", segundo São Tomás de Aquino

Este ensinamento, aparentemente tão simples, pode ser reencontrado nos diferentes modos de que as diversas línguas se valem para agradecer: cada uma acentuando um aspecto da multifacética realidade da gratidão. Algumas línguas expressam a gratidão, tomando-a no primeiro nível: expressando mais nitidamente o reconhecimento do agraciado. Aliás reconhecimento (como reconnaissance em francês) é mesmo um sinônimo de gratidão. Neste sentido, é interessantíssimo verificar a etimologia: na sabedoria da língua inglesa to thank (agradecer) e to think (pensar) são, em sua origem, e não por acaso, a mesma palavra. Ao definir a etimologia de thank o "Oxford English Dictionnary" é claro: "The primary sense was therefore thought". E, do mesmo modo, em alemão, zu danken (agradecer) é originariamente zu denken (pensar). Tudo isto, afinal, é muito compreensível, pois, como todo mundo sabe, só está verdadeiramente agradecido quem pensa no favor que recebeu como tal. Só é agradecido quem pensa, pondera, considera a liberalidade do benfeitor. Quando isto não acontece, surge a justíssima queixa: "Que falta de consideração!". Daí que S. Tomás - fazendo notar que o máximo negativo é a negação do grau ínfimo positivo (a última à direita de quem sobe é a primeira à esquerda de quem desce...) - afirme que a falta de reconhecimento, o ignorar é a suprema ingratidão: "o doente que não se dá conta da doença não quer se curar".
.../... Já a formulação latina de gratidão, gratias ago, que se projetou no italiano, no castelhano (grazie, gracias) e no francês (merci, mercê) é relativamente complexa. Tomás diz (I-II, 110, 1) que seu núcleo, graça comporta três dimensões: 1) obter graça, cair na graça, no favor, no amor de alguém que, portanto, nos faz um benefício; 2) graça indica também dom, algo não devido, gratuitamente dado, sem mérito por parte do beneficiado; 3) a retribuição, "fazer graças", por parte do beneficiado. No tratado De Malo (9,1), acrescenta-se um quarto significado de gratias agere: o de louvor; quem considera que o bem recebido procede de outro, deve louvar.
No amplo quadro que expusemos - o das expressões de gratidão em inglês, alemão, francês, castelhano, italiano, latim e árabe - ressalta o caráter profundíssimo de nossa forma: "obrigado". A formulação portuguesa, tão encantadora e singular, é a única a situar-se, claramente, naquele mais profundo nível de gratidão de que fala Tomás, o terceiro (que, naturalmente, engloba os dois anteriores): o do vínculo (ob-ligatus), da obrigação, do dever de retribuir.».../...
(Extracto adaptado de "Antropologia e Formas quotidianas - a Filosofia de S. Tomás de Aquino Subjacente à nossa Linguagem do Dia-a-Dia", conferência proferida pelo Professor Jean Lauand na Universitat Autònoma de Barcelona, Dept. de Ciències de l'Antiguitat i de l'Etat Mitjana, no dia 23 de Abril de 1998)
sábado, 18 de junho de 2016
Trindade Coelho
José Francisco de Trindade Coelho, escritor, magistrado e político português, nasceu no dia 18 de Junho de 1861 em Mogadouro, Trás-os-Montes.
Concluído o curso de Direito em Coimbra, em 1885, Trindade Coelho começou por se dedicar à advocacia, abraçando depois a magistratura. Fundou jornais e revistas, participou em campanhas pela educação popular e escreveu o "Manual Político do Cidadão Português" e diversos trabalhos jurídicos. Na sua obra literária sobressai o volume de contos "Os Meus Amores" (1891), que é, no seu género, uma das obras-primas da literatura portuguesa.
Republicano, Trindade Coelho teve papel de relevo na obra de demolição da Monarquia. Foi iniciado na Maçonaria em 1906 e filiado na Loja Solidariedade, de Lisboa, afecta ao Grande Oriente Lusitano Unido, com o nome simbólico de "Renovador".
Sentindo-se incompreendido, Trindade Coelho não resistiu à depressão nervosa que o levou ao suicídio, aos 47 anos de idade.
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