Da crónica de Alberto Gonçalves, intitulada "Sete dias na selva", publicada no dia 21 último no jornal online "Observador", o excerto relativo ao assunto em título. Com a devida vénia,
.../...«Rebentou um pequeno escândalo porque “Os Maias” deixaram de ser leitura obrigatória no liceu. Meia dúzia de pontos. Primeiro, parece que a obra é facultativa desde 2002, prova de que a indignação, embora implacável, foi decidida com vagar. Segundo, é absurdo interromper a atenção das crianças em volta das novas tecnologias (publicar fotos no Instagram e assim) para maçá-las com formas de comunicação anacrónicas. Terceiro, ao que se vê por aí, a antiga obrigatoriedade de Eça não convenceu várias gerações de portugueses a escrever bom português, ou sequer a escrever português de todo. Quarto, se a criança for normalzinha, a conotação de um livro com a escola é suficiente para dedicar-lhe o tipo de afeição que se dedica à sarna, pelo que o currículo oficial deveria limitar-se a produtos oficiais, género Mia Couto e os novíssimos romancistas caseiros. Quinto, “Os Maias” são demasiado explícitos na chacota do pardieiro em que vivemos, o que naturalmente aborrece os donos do pardieiro e os leva a preferir autores “humanistas” como Manuel Alegre, as senhoras da colecção “Uma Aventura” e aquele mãe com minúscula. Sexto, a demonstração de que o liberalismo nacional vai longe está no facto de mesmo os liberais acharem que compete ao Estado escolher as leituras, os interesses e provavelmente os sapatos dos filhos. Sétimo, os indignados que vão chatear o Camões, fingindo que o lêem.».../...
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