O oportuníssimo editorial da autoria de David Pontes publicado hoje no jornal "Público", com o título "Uma discussão obrigatória". Com a devida vénia,
«Algures ali entre o fim da Guerra Fria e o 11 de Setembro de 2001, uma conversa sobre a extinção das Forças Armadas poderia ser vista como uma ousadia argumentativa, mas o assunto dificilmente seria considerado bizarro. Foi nesse período, em que parecia que com o “fim da história” poderia vir a paz duradoura, que muitos países da Europa foram abandonando o seu serviço militar obrigatório (SMO). Os tempos mudaram e a discussão em cima da mesa é a do regresso dos jovens à instrução militar.
A Ucrânia regressou ao SMO em 2014 e a Suécia fez o mesmo este ano. A proximidade geográfica de uma Rússia cada mais agressiva é a justificação primordial, mas há outros argumentos que vale a pena sopesar. Entre eles está o que pode ser o prenúncio do fim do “chapéu protector” norte-americano e a consequente necessidade de um maior investimento no esforço militar europeu em tempos de ameaça terrorista e de incerteza internacional, especialmente quando se sabe que o custo de forças militares profissionais pesa sempre mais nas contas nacionais do que um sistema misto.
O fenómeno da imigração, em paralelo com a emergência de sociedades cada vez mais polarizadas, trouxe também para a linha da frente a necessidade de criar mecanismos que reforcem a coesão e a identidades nacionais. E mesmo que a tropa nos pareça, muitas vezes, uma instituição fora deste tempo, é claro que ela representou, durante muitos anos, para muitos cidadãos, uma oportunidade única de cruzamento e comunhão com gentes vindas das diferentes proveniências sociais e geográficas em torno de objectivos comuns.
Por estas razões, é muito mais avisada a posição do ministro da Defesa de ir introduzindo este tema na discussão pública do que o impulso imediato das juventudes partidários de o rejeitar liminarmente. Claro que não faz sentido simplesmente voltar atrás. Vai ser preciso discutir a modernização das Forças Armadas, temos debater seriamente o serviço cívico e adaptar o recrutamento à igualdade de género.
Uma discussão como esta deve ser feita com a seriedade de quem está a lidar com um dos pilares da nossa vida enquanto país e deverá futuramente ser sufragada por todos – mas deve ser feita.»
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