quarta-feira, 18 de março de 2015

Também há violência doméstica por parte das mulheres (2)

.../...«Alexandre teve mais sorte. Conseguiu provar as agressões físicas e psicológicas a que foi sujeito durante quatro anos. A juíza admitiu, no final da leitura da sentença, que era a primeira vez, em muitos anos de carreira, que condenava uma mulher por violência doméstica. Filomena apanhou dois anos e meio de cadeia, com pena suspensa, e terá de pagar uma indemnização ao ex-companheiro. Mesmo assim, Alexandre ficou sem a filha: a guarda de Renata foi entregue à mãe.
.../... E quando Alexandre foi pedir ajuda a uma das associações de protecção de vítimas, ninguém quis tomar nota do caso. Mais tarde, quando a mulher apresentou uma queixa falsa por violência doméstica, a mesma associação encaminhou-a imediatamente para uma casa-abrigo. “Onde continuou a viver mesmo depois de já ter sido condenada por me ter agredido”, conta Alexandre.
.../... Quando elas são condenadas.
Alexandre esteve quase a ser condenado por violência doméstica e a mulher também viveu numa casa-abrigo. Mas a história sofreu uma reviravolta e Filomena é das poucas mulheres condenadas, em Portugal, por violência doméstica. Foi uma juíza quem ditou a sentença: dois anos e meio de prisão, com pena suspensa, e o pagamento de uma indemnização pelos danos que causou ao ex-companheiro. A PSP foi fundamental para que a verdade viesse ao de cima. Alexandre saiu de casa, num serão, com a camisola rasgada e o peito ensanguentado. Ela tinha voltado a bater-lhe. “Mordia-me, arranhava-me até fazer sangue e dava-me murros na cara com as chaves de casa”. Entrou no café do prédio e pediu aos donos que chamassem a polícia. Acalmou-se e voltou a entrar em casa para se certificar de que a filha, ainda bebé, estava bem. A mulher escondeu-se atrás da porta de casa e, quando ele entrou, espetou-lhe as chaves nos olhos. Seguiu-se uma discussão na cozinha. “Ela gritava, dizia que eu não servia para nada, que não era homem, que devia sair de casa e nunca mais voltar, que devia era morrer”. Os gritos chegavam à entrada do prédio e os agentes da PSP ouviram a conversa. “Quando entraram em casa, ela parou de gritar e começou a chorar e a dizer que eu estava a agredi-la e a gritar com ela”. Um dos polícias disse-lhe logo: “Escusa de estar com isso, minha senhora, nós ouvimos tudo”. O episódio foi determinante para que Alexandre conseguisse provar ao tribunal que era a vítima e não o agressor – como a mulher tentava fazer crer nas várias queixas falsas por violência doméstica que lhe moveu, foram precisos três anos de agressões até que Alexandre decidisse falar. E só denunciou a mulher por ter medo de perder o autocontrolo. “Pode ser difícil de acreditar, mas em três anos nunca, mas nunca lhe bati, nem para me defender. Na noite em que fui à esquadra senti que já não aguentava mais controlar-me. A raiva e o desespero eram tão grandes que ia acabar por lhe bater”. Nessa noite, com a cara e o peito arranhados e em sangue, contou tudo. Como ela ameaçava fugir com a filha sempre que ele não lhe dava o que ela queria. Como ela ameaçava destruir-lhe a carreira. Como o chantageava para que ele lhe desse os cartões de crédito e como ela se endividara em milhares de euros em lojas de roupa. Como ela lhe batia. Como o acordava a meio da noite, no sofá, com baldes de água fria. Como lhe atirava as panelas ao chão e a comida ao lixo, todos os dias, quando ele tentava fazer o jantar para a filha. Como lhe chamava de “palhaço”, “cabrão”, “cornudo”. Como chorou no dia em que a filha de três anos lhe disse: “Pai, quando ela voltar a fazer-te mal, tu bate-lhe também”. Foi a primeira de muitas queixas que não deram em nada. Era preciso provas e passaram-se meses. “Saía do trabalho, ia a casa, fazia o jantar para a minha filha, dava-lhe a comida e o banho, deitava-a e depois ia para o carro até serem duas, três da manhã para garantir que quando regressasse a casa ela já estivesse a dormir e não me ia atazanar. ”A seguir ao episódio da PSP e da discussão em casa, Alexandre conseguiu avançar para tribunal. Enquanto isso, a mulher foi a uma associação queixar-se de que era vítima de violência doméstica e o caso também seguiu para julgamento. Um e outro eram simultaneamente arguidos e assistentes. Ela queixava-se de que ele a “apalpava”, que nunca estava em casa, que ele lhe partia os móveis e os perfumes. Entretanto, e com a ajuda da associação, ela saiu de casa e levou a filha. Mudaram-se para uma casa-abrigo, com uma morada secreta. Alexandre ficou meses sem ver a filha e sem saber onde estava. Deixou de dormir e de comer. “Até ao limite fui sempre encarado como o agressor”, conta. Filomena foi condenada em 2013 e Alexandre acabou absolvido. Passou a poder ver a filha de 15 em 15 dias. Mesmo assim, ela continuou a viver na casa-abrigo e a menina era entregue ao pai por funcionários da instituição. Renata ainda continua, aliás, a viver com a mãe. Alexandre faz 150 quilómetros para a poder visitar e Filomena vive agora num apartamento com uma renda mais baixa – um apoio a que tem direito graças à associação a que recorreu.».../...


(Excertos do artigo de Rosa Ramos, intitulado "A história de dois homens que foram vítimas de violência doméstica por parte das suas mulheres", publicado no "Jornali" de 2015.03.15)

2 comentários:

RR disse...

Boa tarde. Publicou uma fotografia minha - que nem sei onde a arranjou - sem autorização. Agradeço que a remova. Melhores cumprimentos.

Daniel Furtado disse...

O meu pedido formal de desculpa pelo eventual abuso.
As fotografias (a deste "post", bem como a do "post" do dia anterior), foram prontamente removidas. Haviam sido obtidas a partir de rápida pesquisa, pelo nome associado à profissão, através do Google.
Cumprimentos respeitosos.