.../...«Alexandre teve mais sorte. Conseguiu provar as agressões físicas e
psicológicas a que foi sujeito durante quatro anos. A juíza admitiu, no
final da leitura da sentença, que era a primeira vez, em muitos anos de
carreira, que condenava uma mulher por violência doméstica. Filomena
apanhou dois anos e meio de cadeia, com pena suspensa, e terá de pagar
uma indemnização ao ex-companheiro. Mesmo assim, Alexandre ficou sem a
filha: a guarda de Renata foi entregue à mãe.
.../... E quando Alexandre foi pedir ajuda a uma das associações de protecção
de vítimas, ninguém quis tomar nota do caso. Mais tarde, quando a mulher
apresentou uma queixa falsa por violência doméstica, a mesma associação
encaminhou-a imediatamente para uma casa-abrigo. “Onde continuou a
viver mesmo depois de já ter sido condenada por me ter agredido”, conta
Alexandre.
.../... Quando elas são condenadas.
Alexandre esteve quase a ser condenado por
violência doméstica e a mulher também viveu numa casa-abrigo. Mas a
história sofreu uma reviravolta e Filomena é das poucas mulheres
condenadas, em Portugal, por violência doméstica. Foi uma juíza quem
ditou a sentença: dois anos e meio de prisão, com pena suspensa, e o
pagamento de uma indemnização pelos danos que causou ao ex-companheiro. A
PSP foi fundamental para que a verdade viesse ao de cima. Alexandre
saiu de casa, num serão, com a camisola rasgada e o peito ensanguentado.
Ela tinha voltado a bater-lhe. “Mordia-me, arranhava-me até fazer
sangue e dava-me murros na cara com as chaves de casa”. Entrou no café
do prédio e pediu aos donos que chamassem a polícia. Acalmou-se e voltou
a entrar em casa para se certificar de que a filha, ainda bebé, estava
bem. A mulher escondeu-se atrás da porta de casa e, quando ele entrou,
espetou-lhe as chaves nos olhos. Seguiu-se uma discussão na cozinha.
“Ela gritava, dizia que eu não servia para nada, que não era homem, que
devia sair de casa e nunca mais voltar, que devia era morrer”. Os gritos
chegavam à entrada do prédio e os agentes da PSP ouviram a conversa.
“Quando entraram em casa, ela parou de gritar e começou a chorar e a
dizer que eu estava a agredi-la e a gritar com ela”. Um dos polícias
disse-lhe logo: “Escusa de estar com isso, minha senhora, nós ouvimos
tudo”. O episódio foi determinante para que Alexandre conseguisse provar
ao tribunal que era a vítima e não o agressor – como a mulher tentava
fazer crer nas várias queixas falsas por violência doméstica que lhe
moveu, foram precisos três anos de agressões até que Alexandre decidisse
falar. E só denunciou a mulher por ter medo de perder o autocontrolo.
“Pode ser difícil de acreditar, mas em três anos nunca, mas nunca lhe
bati, nem para me defender. Na noite em que fui à esquadra senti que já
não aguentava mais controlar-me. A raiva e o desespero eram tão grandes
que ia acabar por lhe bater”. Nessa noite, com a cara e o peito
arranhados e em sangue, contou tudo. Como ela ameaçava fugir com a filha
sempre que ele não lhe dava o que ela queria. Como ela ameaçava
destruir-lhe a carreira. Como o chantageava para que ele lhe desse os
cartões de crédito e como ela se endividara em milhares de euros em
lojas de roupa. Como ela lhe batia. Como o acordava a meio da noite, no
sofá, com baldes de água fria. Como lhe atirava as panelas ao chão e a
comida ao lixo, todos os dias, quando ele tentava fazer o jantar para a
filha. Como lhe chamava de “palhaço”, “cabrão”, “cornudo”. Como chorou
no dia em que a filha de três anos lhe disse: “Pai, quando ela voltar a
fazer-te mal, tu bate-lhe também”. Foi a primeira de muitas queixas que
não deram em nada. Era preciso provas e passaram-se meses. “Saía do
trabalho, ia a casa, fazia o jantar para a minha filha, dava-lhe a
comida e o banho, deitava-a e depois ia para o carro até serem duas,
três da manhã para garantir que quando regressasse a casa ela já
estivesse a dormir e não me ia atazanar. ”A seguir ao episódio da PSP e
da discussão em casa, Alexandre conseguiu avançar para tribunal.
Enquanto isso, a mulher foi a uma associação queixar-se de que era
vítima de violência doméstica e o caso também seguiu para julgamento. Um
e outro eram simultaneamente arguidos e assistentes. Ela queixava-se de
que ele a “apalpava”, que nunca estava em casa, que ele lhe partia os
móveis e os perfumes. Entretanto, e com a ajuda da associação, ela saiu
de casa e levou a filha. Mudaram-se para uma casa-abrigo, com uma morada
secreta. Alexandre ficou meses sem ver a filha e sem saber onde
estava. Deixou de dormir e de comer. “Até ao limite fui sempre encarado
como o agressor”, conta. Filomena foi condenada em 2013 e Alexandre
acabou absolvido. Passou a poder ver a filha de 15 em 15 dias. Mesmo
assim, ela continuou a viver na casa-abrigo e a menina era entregue ao
pai por funcionários da instituição. Renata ainda continua, aliás, a
viver com a mãe. Alexandre faz 150 quilómetros para a poder visitar e
Filomena vive agora num apartamento com uma renda mais baixa – um apoio a
que tem direito graças à associação a que recorreu.».../...
(Excertos do artigo de Rosa Ramos, intitulado "A história de dois homens que foram vítimas de violência doméstica por parte das suas mulheres", publicado no "Jornali" de 2015.03.15)
2 comentários:
Boa tarde. Publicou uma fotografia minha - que nem sei onde a arranjou - sem autorização. Agradeço que a remova. Melhores cumprimentos.
O meu pedido formal de desculpa pelo eventual abuso.
As fotografias (a deste "post", bem como a do "post" do dia anterior), foram prontamente removidas. Haviam sido obtidas a partir de rápida pesquisa, pelo nome associado à profissão, através do Google.
Cumprimentos respeitosos.
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