«.../...a Reserva
Federal anda há três anos a imprimir dólares. Essa liquidez não só
ajudou os EUA a sair na frente da Grande Recessão, mas beneficiou (em
regra) os países emergentes, os em vias de desenvolvimento e pelo
caminho os hesitantes europeus. Com os dólares injetados pela Reserva
Federal (compra 85 mil milhões de dólares todos os meses em obrigações),
os investidores - fundos de investimento e fundos soberanos -
procuraram os negócios com maiores rendibilidades. As dívidas do Ruanda,
Portugal, Espanha e outros países passaram assim de investimentos
arriscados a boas oportunidades. A procura fez naturalmente cair os
juros.
Não foi só, portanto, a obediência pavloviana de Gaspar às
ordens da troika (ultrapassando-as perigosamente) que agradou aos
mercados, embora o nosso sofrimento coletivo também tenha credibilizado
(!) o processo. O incentivo dos compradores era bem mais evidente -
ganhar dinheiro -, e havia liquidez (dólares) para aplicar, foi isso que
aconteceu. A promessa do BCE de salvar o euro também deu uma mão, mas
agora que a política monetária expansionista americana tem os dias
contados (o fim abrupto seria fatal...), o castelo de cartas europeu
começa a deslaçar-se. Afinal era a América que bancava o jogo, não o
BCE. A fragmentação financeira no euro está, por isso, a aumentar e as
consequências já são visíveis: os juros portugueses a dez anos voltaram à
zona de morte (7%) - como diz Warren Buffet, só descobrimos quem está a
nadar nu quando a maré baixa, e nós, como é notório, estamos a
afogar-nos em pelota. Entretanto, a Alemanha continua a lucrar, adia
tudo o que pode, até a união bancária. A greve geral de hoje deveria
ser por isto. Só por isto. Protestar contra Passos Coelho é protestar
contra o vazio.»
(Excerto do artigo de opinião de André Macedo publicado hoje no "Diário de Notícias" online)
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