quinta-feira, 27 de junho de 2013

A greve que nos devia interessar fazer

«.../...a Reserva Federal anda há três anos a imprimir dólares. Essa liquidez não só ajudou os EUA a sair na frente da Grande Recessão, mas beneficiou (em regra) os países emergentes, os em vias de desenvolvimento e pelo caminho os hesitantes europeus. Com os dólares injetados pela Reserva Federal (compra 85 mil milhões de dólares todos os meses em obrigações), os investidores - fundos de investimento e fundos soberanos - procuraram os negócios com maiores rendibilidades. As dívidas do Ruanda, Portugal, Espanha e outros países passaram assim de investimentos arriscados a boas oportunidades. A procura fez naturalmente cair os juros.

Não foi só, portanto, a obediência pavloviana de Gaspar às ordens da troika (ultrapassando-as perigosamente) que agradou aos mercados, embora o nosso sofrimento coletivo também tenha credibilizado (!) o processo. O incentivo dos compradores era bem mais evidente - ganhar dinheiro -, e havia liquidez (dólares) para aplicar, foi isso que aconteceu. A promessa do BCE de salvar o euro também deu uma mão, mas agora que a política monetária expansionista americana tem os dias contados (o fim abrupto seria fatal...), o castelo de cartas europeu começa a deslaçar-se. Afinal era a América que bancava o jogo, não o BCE. A fragmentação financeira no euro está, por isso, a aumentar e as consequências já são visíveis: os juros portugueses a dez anos voltaram à zona de morte (7%) - como diz Warren Buffet, só descobrimos quem está a nadar nu quando a maré baixa, e nós, como é notório, estamos a afogar-nos em pelota. Entretanto, a Alemanha continua a lucrar, adia tudo o que pode, até a união bancária. A greve geral de hoje deveria ser por isto. Só por isto. Protestar contra Passos Coelho é protestar contra o vazio.»

(Excerto do artigo de opinião de André Macedo publicado hoje no "Diário de Notícias" online)

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