sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Portugal e o momento actual

Houve quem pudesse ouvir hoje, no início dos noticiários da Rádio Renascença, esta notável Nota de Abertura que faz um realista ponto da situação relativamente aos problemas e dilemas com que nos confrontamos actualmente em Portugal.

«Portugal vive há muito tempo acima das suas possibilidades. O Estado gasta mais do que recebe. E embalados pelo exemplo, ou até pelo incentivo do Estado, muitas pessoas e muitas empresas habituaram-se a fazer o mesmo. Deixamos-nos envolver numa ilusão, para não dizer numa mentira. Por outras palavras, temos um défice de verdade na sociedade portuguesa.

Desenvolveu-se uma cultura individualista, desligada do bem comum. A quebra da natalidade, por exemplo, não nasceu com a crise. Pelo contrário: foi nos melhores anos da economia que muitos portugueses optaram por ter menos filhos. Inebriados pelo aumento do bem estar, poucos quiseram pensar nas consequências.

Os resultados estão à vista. Menos filhos significa, por exemplo, menos alunos, menos escolas, menos emprego para professores; significa, a prazo, menos população activa, menos contribuições para a segurança social e menor capacidade do Estado para pagar reformas a quem toda a vida trabalhou.

Dito de outro modo: a crise actual é o resultado de uma cultura e de um certo modo de vida.

Medidas como aquelas que o Governo anunciou podem resolver um aperto financeiro momentâneo, mas se não mudarmos hábitos e atitudes, rapidamente voltaremos ao mesmo.

Em todo o caso, o Governo tem aqui uma especial responsabilidade. Deve tomar as medidas necessárias, mas com algumas condições: explicar aos portugueses com clareza e verdade, isto é, sem confusão nem distorção, as grandes decisões que os afectam; promover um consenso nacional e social que mobilize os cidadãos para a reabilitação do país; e procurar salvaguardar – não na retórica, mas nos actos - os mais pobres e os mais débeis.

Finalmente, a coragem de um governo não se mede apenas pelas medidas que toma. Para o Governo recuar, negociar e ceder, é preciso coragem e uma enorme maturidade. E o mesmo se pede à oposição. Protestar é fácil e, seguramente, popular. Mas a cada crítica é necessário juntar uma proposta; mostrar uma alternativa; explicar uma diferença.

Na vida pública portuguesa sobra a propaganda; e falta a verdade. Verdade nas propostas, verdade nas críticas, verdade nas alternativas.

Propor e exigir - a todos - a verdade, talvez seja o melhor caminho para começar a mudar de vida. Porque sem mudar de vida não há esperança que resista à crise.»

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