O Editorial, da autoria de Amílcar Correia, publicado hoje no jornal "Público". Com a devida vénia,

Em época de distanciamento necessário, o atendimento à distância ou o teletrabalho deixaram de ser olhados com desconfiança e encarados como tabus. A telemedicina também já não oferece as dúvidas que antes suscitava. Mas, para que este seja um recurso eficaz na relação entre médico e paciente, é necessário que o Serviço Nacional de Saúde se adapte à nova realidade dos fluxos de procura e antecipe um potencial surto outonal.
Segundo o Ministério da Saúde, entre Março e Maio fizeram-se menos 1,1 milhões de consultas do que no mesmo período de 2019, a Ordem dos Médicos prefere sublinhar que foram menos três milhões — só leva em conta os atendimentos presenciais. Muitas das que não se fizeram foi porque não foi possível atender todas as chamadas recebidas nos centros de saúde — as centrais telefónicas não são as ideais, não há telefonistas e os secretários clínicos escasseiam —, porque não foi possível fazer uma marcação pela Internet ou porque não existem equipamentos para videoconsultas.
É paradoxal que o discurso sanitário sugira, prudentemente que ninguém se desloque sem razão de força maior a um centro de saúde e que muitos utentes se acumulem nos balcões dos mesmos para marcar presencialmente uma consulta que será feita pelo telefone e que os clínicos não consideram um acto médico por não se tratar de uma videochamada.
Os centros de saúde retomaram as consultas presenciais desde Junho, mas não deveriam descurar a medicina à distância, uma melhor gestão de horários de atendimento ou o agendamento por hora marcada, até porque a resposta a nível nacional não é uniforme e os serviços deveriam ser adaptados às características urbanas e demográficas das regiões onde o acesso à saúde é mais periclitante. Neste esforço de adaptação há outro factor a ter em linha de conta: a pandemia não desapareceu e a sensatez recomenda que os cuidados primários aprendam com a experiência do primeiro surto da covid-19.»
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