As vendas de telemóveis só com funções básicas estão a crescer
«Com o custo de 295 euros, o MP 01 não é propriamente barato. Não tem ecrã touch e o visor é a preto e branco. Mas o mais insólito é que este telemóvel lançado no último verão pela empresa suíça Punkt só serve para duas coisas: fazer chamadas e enviar mensagens sms. Sim, isso mesmo, o telefone não recebe chamadas nem mensagens.
"Quanto mais os nosso telefones fazem, mais exigem de nós. Às vezes é bom termos uma pausa. Mas, até agora, a única alternativa aos telefones hyper conectados tem sido o tipo telefones que encontra esquecido no fundo de uma gaveta. O MP 01 é um estiloso e cuidado telemóvel que se foca na moderna simplicidade, por dentro e por fora. Faz chamadas e envia mensagens. E é tudo", lê-se na descrição do aparelho no site da Punkt.
É um exemplo extremo de uma nova moda - os "dumbphones", ou telefones burros, por oposição aos "smartphones" que se generalizaram quando a Apple apareceu no mercado das telecomunicações móveis, há mais de uma década. São aparelhos básicos, feitos a pensar nas pessoas que dispensam toda a atenção que os dispositivos mais inteligentes exigem. E têm uma grande vantagem - só precisam de ser carregados uma a duas vezes por semana. Lembra-se desses tempos?
Um artigo recente publicado no Wall Street Journal diz que as vendas de aparelhos como os flip phones (os telemóveis que se abrem em concha) ou os candybar phones (os tradicionais aparelhos compridos e finos) atingiram 24 milhões de unidades vendidas nos EUA em 2015, mais 2 milhões do que no ano anterior.
Maxime Chanson, dono da Lekki, um site que vende modelos vintage de telemóveis para uma clientela requintada, explica à NBC o segredo do sucesso do seu negócio: "Algumas pessoas fartaram-se da ultra conectividade do século 21 e procuram um telefone que lhes dê espaço para a vida privada, sem serem constantemente interrompidas".
Estudos recentes dão conta da ansiedade que os aparelhos topo de gama ajudaram a construir. Nos EUA, cada utilizador olha para o seu telefone a cada seis minutos e meio. Cerca de 50% dos adolescentes estão viciados no telemóvel e há queixas de uma fobia a que chamam "ringxiety," em que os utilizadores imaginam ouvir chamadas ou toques de alerta.»
(Adaptado do artigo de José Carlos Marques, «A moda dos telemóveis 'burros'», publicado no jornal "Correio da Manhã" de 09.05.2016)
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