sexta-feira, 13 de março de 2015

Belmiro de Azevedo

«Está anunciada a saída de Belmiro de Azevedo do topo da gestão da Sonae. Não há por cá outro empresário que, quase do zero, sem estar pendurado no Estado e no espaço de uma geração, tenha criado um império que dá trabalho a 40 mil pessoas, factura 5 mil milhões e opera em cerca de 70 países. A retirada só não é dramática visto a sucessão estar perfeitamente bem assegurada. Fica um exemplo a seguir e a imitar. Muito.  

Belmiro de Azevedo é suposto ter muitos defeitos. Podia até ter o dobro. Não se conhece outro português que tenha prestado tão significativo contributo à modernização recente do país (no comércio, na distribuição, nas comunicações, na imprensa), à criação de emprego ou, por via fiscal, à saúde dos cofres do Estado. Contam-se pelos dedos empreendedores que, com tanta frequência como ele, tenham assumido o risco, captado talento e valorizado o mérito. Não há outra empresa que tenha uma cultura como a da Sonae nem escola de gestão como esta.


Belmiro nunca saiu do Porto (da Maia, em bom rigor), nunca se «deslocalizou» para Lisboa (não demasiado, pelo menos), nunca se encostou ao Estado. Também por isso só pode ter razões de queixa do sector público e dos políticos – desde a OPA do BCP ao Banco Português do Atlântico à OPA da Sonae à PT, a independência nunca jogou a seu favor. Nunca se dispôs a abdicar do estilo nem das convicções, para ser conveniente ao poder ou ainda mais bem-sucedido nos negócios.

Graças ao trabalho e à competência, Belmiro de Azevedo ganhou imenso dinheiro e fez o trajecto de uma criança pobre que chega a um dos homens mais ricos do mundo. Fazer fortuna é o dever dos bons empresários. O mérito aqui, façam-se as contas que se fizerem, é que a sua riqueza será sempre incomensuravelmente inferior àquela que gerou ao país. Com ou sem defeitos, é um grande caso de sucesso. Para prosperar, Portugal precisava de 20 Belmiros. Infelizmente não tem.
PS: para que conste, nunca trabalhei na ou para a Sonae. Simpatizo com a Popota e compro o Público.»

(Artigo de opinião do jornalista Jorge Afonso Morgado, intitulado "O fabuloso senhor engenheiro", publicado no "Jornali" de 12 de Março de 2015)

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