«Está anunciada a saída de Belmiro de Azevedo do topo da gestão da
Sonae. Não há por cá outro empresário que, quase do zero, sem estar
pendurado no Estado e no espaço de uma geração, tenha criado um império
que dá trabalho a 40 mil pessoas, factura 5 mil milhões e opera em cerca
de 70 países. A retirada só não é dramática visto a sucessão estar
perfeitamente bem assegurada. Fica um exemplo a seguir e a imitar.
Muito.
Belmiro de Azevedo é suposto ter muitos defeitos. Podia até ter o
dobro. Não se conhece outro português que tenha prestado tão
significativo contributo à modernização recente do país (no comércio, na
distribuição, nas comunicações, na imprensa), à criação de emprego ou,
por via fiscal, à saúde dos cofres do Estado. Contam-se pelos dedos
empreendedores que, com tanta frequência como ele, tenham assumido o
risco, captado talento e valorizado o mérito. Não há outra empresa que
tenha uma cultura como a da Sonae nem escola de gestão como esta.
Belmiro nunca saiu do Porto (da Maia, em bom rigor), nunca se
«deslocalizou» para Lisboa (não demasiado, pelo menos), nunca se
encostou ao Estado. Também por isso só pode ter razões de queixa do
sector público e dos políticos – desde a OPA do BCP ao Banco Português
do Atlântico à OPA da Sonae à PT, a independência nunca jogou a seu
favor. Nunca se dispôs a abdicar do estilo nem das convicções, para ser
conveniente ao poder ou ainda mais bem-sucedido nos negócios.
Graças ao trabalho e à competência, Belmiro de Azevedo ganhou imenso
dinheiro e fez o trajecto de uma criança pobre que chega a um dos homens
mais ricos do mundo. Fazer fortuna é o dever dos bons empresários. O
mérito aqui, façam-se as contas que se fizerem, é que a sua riqueza será
sempre incomensuravelmente inferior àquela que gerou ao país. Com ou
sem defeitos, é um grande caso de sucesso. Para prosperar, Portugal
precisava de 20 Belmiros. Infelizmente não tem.
PS: para que conste, nunca trabalhei na ou para a Sonae. Simpatizo com a Popota e compro o Público.»
(Artigo de opinião do jornalista Jorge Afonso Morgado, intitulado "O fabuloso senhor engenheiro", publicado no "Jornali" de 12 de Março de 2015)
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