quarta-feira, 28 de maio de 2014

Que futuro para os reformados?

.../...«As alterações do sistema de pensões implementadas por anteriores governos, no sentido de aproximar as reformas do sector público às do privado e de transferir os beneficiários da Caixa Geral de Aposentações (CGA) para o regime geral, garantiam, após um período de transição, a sustentabilidade do sistema. Obviamente que, deixando as gerações presentes de funcionários públicos de contribuir para a CGA e tendo o Estado que continuar a pagar, deste fundo, as pensões dos atuais reformados, este sistema teria que, necessariamente, ficar desequilibrado. Caberia então, naturalmente, ao Estado assegurar o sistema durante o período de transição.

Além disto, a análise da sustentabilidade futura do sistema de pensões partia de projeções demográficas, realistas à época. Se os pressupostos de análise deixaram, em grande medida, de ser válidos, a culpa é sobretudo das medidas que têm vindo a ser tomadas. Os casais novos, sem esperança no futuro e, muitas vezes, sem emprego, não têm filhos. Muitos dos nossos jovens que poderiam ingressar na população ativa emigram por falta de oportunidades em Portugal. Isto aponta, como revela o destaque do Instituto Nacional de Estatística de 28 de Março, para um decréscimo dramático da população portuguesa. Neste cenário as contribuições para a segurança social vão, com certeza diminuir drasticamente (facto ignorado no Documento de Estratégia Orçamental).

O problema não se resolve pondo os reformados a pagar o desequilíbrio que não foi criado por eles, mas sim garantindo as condições de sustentabilidade do sistema: uma população ativa contribuinte e que garanta o aumento da taxa de natalidade. Estas sim devem ser as nossas prioridades. Durante alguns anos o “buraco” continuará a existir e cabe ao Estado suportá-lo. Paralelamente deve garantir as políticas de estímulo à natalidade e de retenção da mão-de-obra jovem que assegure, aí sim, o futuro dos nossos filhos e netos sem hipotecar o dos nossos reformados.»

, docente da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica Portuguesa, no Porto, publicada no jornal "Público" de hoje)

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