... e uma apropriada crónica de opinião de Ferreira Fernandes, no jornal "Diário de Notícias", intitulada "A equivalência na vida real":
«Estava o País
divertido com o escândalo de uma licenciatura, quando surgiu a notícia
de que os soldadores ganham mais do que os engenheiros. Nada que Woody
Allen não tivesse já dito: "Não só não acredito em Deus como não consigo
encontrar um canalizador ao fim de semana." Voltando à notícia: há
anúncios a oferecer 834 euros/mês a um tratorista agrícola, em Viana do
Castelo, e 485 a um engenheiro agrónomo, em Trancoso; 800 para um
montador de tubagens, em Valença, e 600 para um engenheiro mecânico, em
Lousada... E assim por diante, sempre com a mesma relação, quanto mais
canudos menos equivalências no ordenado. Nada como a vida para inventar
ironias: no momento em que as licenciaturas atingem o pico da fama,
tiram-se-lhes créditos na folha salarial... A notícia, que no fundo é
uma comparação entre licenciados e profissionais qualificados, dá boas
lições, a uns e a outros, apesar das ofertas baixas de salários. Os com
canudo deverão ver no balde de água fria dos 500 euros uma
pós-graduação: ficam a saber (na pele, que às vezes permite o mais
profundo dos saberes) que licenciado não é, ainda, ser um profissional
qualificado (quem vier a sê-lo, tirará o melhor partido dos anos de
estudo). Por seu lado, os não licenciados, com esta histórica inversão
salarial, talvez venham a ser mais respeitados. No dia em que ouvirmos
no restaurante "ó Firmino, arranja uma boa mesa aqui para o sr.
serralheiro", Portugal chegou lá.»
Sem comentários:
Enviar um comentário