segunda-feira, 23 de julho de 2012

Ainda as (des)equivalências...

... e uma apropriada crónica de opinião de Ferreira Fernandes, no jornal "Diário de Notícias", intitulada "A equivalência na vida real":

«Estava o País divertido com o escândalo de uma licenciatura, quando surgiu a notícia de que os soldadores ganham mais do que os engenheiros. Nada que Woody Allen não tivesse já dito: "Não só não acredito em Deus como não consigo encontrar um canalizador ao fim de semana." Voltando à notícia: há anúncios a oferecer 834 euros/mês a um tratorista agrícola, em Viana do Castelo, e 485 a um engenheiro agrónomo, em Trancoso; 800 para um montador de tubagens, em Valença, e 600 para um engenheiro mecânico, em Lousada... E assim por diante, sempre com a mesma relação, quanto mais canudos menos equivalências no ordenado. Nada como a vida para inventar ironias: no momento em que as licenciaturas atingem o pico da fama, tiram-se-lhes créditos na folha salarial... A notícia, que no fundo é uma comparação entre licenciados e profissionais qualificados, dá boas lições, a uns e a outros, apesar das ofertas baixas de salários. Os com canudo deverão ver no balde de água fria dos 500 euros uma pós-graduação: ficam a saber (na pele, que às vezes permite o mais profundo dos saberes) que licenciado não é, ainda, ser um profissional qualificado (quem vier a sê-lo, tirará o melhor partido dos anos de estudo). Por seu lado, os não licenciados, com esta histórica inversão salarial, talvez venham a ser mais respeitados. No dia em que ouvirmos no restaurante "ó Firmino, arranja uma boa mesa aqui para o sr. serralheiro", Portugal chegou lá.»

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