O interessante artigo de opinião de Bárbara Reis, intitulado "O que podemos aprender com as galinhas", publicado no jornal "Público" de 11 de ontem. Com a devida vénia,
«Duas coisas importantes para esta história: uma galinha vive entre três a cinco anos e põe qualquer coisa como 267 ovos em cada ano.

Mas o mais interessante de tudo é a ligação que o investigador faz entre as galinhas e aquilo a que ele chama a “situação humana” e como passa das capoeiras para as empresas.
Desde que deixou de ser vista como uma ideia estapafúrdia e passou a ser mainstream, para não dizer lendária, a experiência das galinhas gerou um efeito padrão. Sempre que é descrita, há alguém que diz “isso é a minha empresa” ou “isso é a minha vida”. Arriscando ser pobre e mal-agradecida para a ciência, a experiência das galinhas foi transformada em show de auto-ajuda. Uma vez que muitas pessoas no mundo precisam de ajuda, isso não é nada mau.
William Muir queria estudar a produtividade e usou galinhas porque é fácil medir os resultados: conta-se os ovos que elas põem. O professor queria saber o que poderia tornar as galinhas mais produtivas, ou seja, pô-las a pôr mais ovos. Por outras palavras, estudou a produtividade a partir do ponto de vista da competição.
Na altura, muitos colegas riram-se do projecto e o seu orientador de tese avisou-o de que estava a pôr em risco um lugar permanente na universidade.
Esta foi a experiência: Muir organizou dois grupos de nove galinhas e colocou-os em duas capoeiras distintas. Numa ficaram nove galinhas escolhidas a dedo por serem muito produtivas, uma espécie de super-galinhas. De tempos a tempos, fazia-se o balanço dos ovos postos e substituíam-se as galinhas menos produtivas por novas super-galinhas. Na outra capoeira ficaram nove galinhas banais, que comeram, beberam e puserem ovos sem intervenção humana. E assim foi durante seis gerações.
O que aconteceu no fim da experiência? Na capoeira das galinhas banais estava tudo sereno e a produção aumentara 160%. Na capoeira das super-galinhas o cenário era mais triste. Só havia três vivas. As outras estavam mortas, assassinadas à bicada e depenadas pelas mais fortes, as mais “super” do clube das supergalinhas, que, ocupadas a lutar, já quase já não punham ovos.
A conclusão do professor é tão simples quanto a experiência: as galinhas mais produtivas tiveram sucesso porque esmagaram as outras. Começaram por impedir que fossem produtivas e, através de métodos agressivos e disfuncionais — os adjectivos são do professor Muir — acabaram por as matar.
É a partir daqui, e da ideia de que o modelo das super-galinhas domina o mundo há demasiado tempo, que algumas pessoas usam a experiência de Muir para alertar para o preço que estamos a pagar por uma produtividade gerada com base no esmagamento da produtividade do outro. E para a necessidade de repensar a forma como organizamos o trabalho no século XXI. No capitalismo, diz o professor americano, os grupos (ou empresas) onde não há cooperação entre os colegas vão desaparecer.
Muir, já agora, não tem nada contra o capitalismo. Pelo contrário. Em apenas 20 anos, recebeu 12 milhões de dólares em financiamento do governo e de empresas privadas para investigar o bem-estar e a vida em grupo dos animais.
Em entrevistas, o professor já explicou que não ficou “nada surpreendido” com o resultado da sua experiência das galinhas porque já tinha visto o mesmo acontecer com escaravelhos. Também eles permitem concluir que as sociedades não se tornam mais fortes se simplesmente escolhermos os melhores e esmagarmos o resto.»
Sem comentários:
Enviar um comentário