terça-feira, 21 de novembro de 2017

“É uma ilusão achar que podemos voltar ao ponto antes da crise” (Marcelo Rebelo de Sousa)

Da autoria de Filipe Santos Costa, jornalista da Secção Política do jornal "Expresso", um excerto, intitulado  «"É uma ilusão". Qual destas três palavras não percebeu?» do "Expresso Curto" de hoje. Com a devida vénia,

«Bom dia.

Já deve ter lido e ouvido por estes dias a ideia de que, passada a crise, ida a troika e virada a "página da austeridade", as pessoas (ou pelo menos algumas) têm o "direito" de recuperar o que perderam. Acha que isso faz sentido? Ao que tudo indica, o Presidente da República acha que não.

"Numa conferência sobre educação, Marcelo Rebelo de Sousa deixou vir ao de cima uma opinião que se aplica como uma luva às reivindicações dos professores", escreve o Público. E que disse o Presidente da República nestes dias em que os professores exigem do Governo que "reponha os contadores" do tempo de carreira como se os anos da crise não tivessem acontecido? "A crise deixou marcas profundas, é uma ilusão achar que é possível voltar ao ponto em que nos encontrávamos antes da crise – isso não há!” E foi mais longe, apontando outra ilusão: “A segunda ilusão é achar que se pode olhar para os tempos pós-crise da mesma forma que se olhava antes [para os problemas], como se não tivesse havido crise. A crise deixou traços profundos e temos de olhar para eles”.

"Como uma luva", escreve o Público, e bem. E Marcelo continuou: “A sociedade tem de ter a coragem de assumir os seus problemas. Mas há muito a tendência portuguesa para o ‘mais ou menos’, o ‘assim-assim’, ou a tendência de ‘ganhar um tempinho’. É quando alguém pensa: ‘Bem, consegui ganhar um tempinho. Com sorte isto não dá errado’”. Ora, concluiu o PR, “a opção por ‘ganhar um tempinho’ normalmente não dá bom resultado”.

O recado de Marcelo vai direitinho para professores, sindicatos, partidos da esquerda e Governo. Quando os professores tentam recuperar o que perderam na crise, mantendo o resto na mesma, e depois de assinado um acordo, propositadamente vago, adiando para dezembro o regresso às negociações, fica clara a oposição do PR em relação ao princípio e ao método.

A secretária de Estado da Administração Pública já tentou ligar a recuperação de rendimentos à revisão da carreira, que o próprio Governo considera incomportável: "Não nos furtamos a qualquer tipo de discussão. Esperamos que os nossos parceiros também não o façam." Mas os professores não querem nem ouvir falar nisso. Entende-se: se não cederam quando a situação era mais difícil, porque haviam de o fazer agora, que estão numa posição de força em relação ao Governo? Lá para 2024 falamos nisso, respondem os sindicatos. Pudera!».../...

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