terça-feira, 15 de agosto de 2017

É boa ideia fazer um check-up médico anual? (2)

Segunda parte do artigo de opinião de David Marçal, com o mesmo título, publicado no passado dia 13 de Agosto no jornal "Público".

.../...«O mesmo tipo de interrogações se pode levantar face aos exames de rotina anuais. Nestes check-ups, pessoas sem queixas são submetidas a um conjunto de exames médicos com o objectivo de detectarem doenças que ainda não se manifestaram, de modo a impedir o seu desenvolvimento ou melhorar o seu prognóstico. Ou simplesmente para se tranquilizarem. Parece fazer sentido. O problema é que por vezes estes exames resultam em diagnósticos supérfluos, incluindo muitos falsos positivos, acarretando com eles o risco de mais exames e tratamentos desnecessários. É raro uma bateria de exames de rotina salvar uma vida, mas pode desencadear uma cascata de procedimentos médicos invasivos. Há casos em que os riscos desses tratamentos são largamente superiores aos riscos de não tratar a condição clínica encontrada.

É isso que indicia uma revisão sistemática da literatura médica publicada em 2012, também pela Cochrane. Os autores levaram em conta 14 ensaios clínicos que abrangeram 182.880 pessoas, divididas em grupos que faziam ou não faziam check-ups regulares. Não foi encontrada nenhuma diferença de risco de morte entre as pessoas que faziam ou não faziam check-ups, mesmo quando considerados períodos de seguimento longos. Também não foi encontrada nenhuma diferença entre os dois grupos na mortalidade por doenças cardiovasculares ou cancro. Nem foi notada nenhuma diferença no número de dias de internamento hospitalar, de consultas médicas ou de faltas ao trabalho por doença (mas estes efeitos foram mais mal estudados).

Um dos ensaios clínicos revelou um aumento de 20% no número de diagnósticos por doente, durante um período de seis anos, quando comparado com o grupo que não fazia check-ups. Os autores concluem que é improvável que os check-ups sejam benéficos e sugerem que a ausência do seu efeito se explique porque os médicos intervêm quando desconfiam que um doente está em risco de uma determinada doença, mesmo que o vejam por outros motivos. Uma crítica que se pode fazer a esta revisão é que, apesar de publicada em 2012, os dados são antigos, tendo sido considerados ensaios clínicos que decorreram até 1999.».../...

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