quarta-feira, 3 de maio de 2017

França ainda não sabe o que fazer com a Le Pen que lhe entrou no galinheiro

A crónica de opinião, oportuníssima e muito esclarecedora, da autoria de Ferreira Fernandes, com o título "A estupidez de acusar Le Pen de plágio", hoje publicada no jornal "Diário de Notícias", Com a merecida e devida vénia,

"É estranho o diálogo entre a raposa e as galinhas. Cocorocó, que fazes tu aqui? Eu ia só a passar, porquê esse nervoso todo?... A França habitual, que vai de banqueiros a desempregados, anda sem saber o que fazer com a Le Pen que lhes entrou no galinheiro. Aliás, só Marine - não Le Pen, nome apagado do cartaz da candidata da Frente Nacional. Aliás, não "a candidata" - só "apoiada" pela FN. Como se ela não fosse a líder do partido ainda há dez dias. Apagou-se, numa volta, um partido, uma família, um pai e uma herdeira, um facho criado para combater a França renascida depois da ocupação nazi. Enfim, a extrema-direita conquistou a normalidade. É de desconfiar? Desconfiar é sempre prudente, mas não façamos futuro, olhemos o método em ação. Porque não é só apagar as marcas das ideias criminosas passadas. É o baralhar das referências: citar "o general De Gaulle" em todos os discursos, quando as raízes da FN foram regadas por aqueles que prepararam atentados contra o pai da V República. E, agora, esse plágio de um discurso do republicano Fillon feito por Marine! Não, não é o pecadilho de citar sem atribuir a autoria. É o abusar como forma de viver a política. É declamar muitas frases de outro para inocular no eleitor que o outro e a candidata são o mesmo. É o laboratório do Admirável Mundo Novo! Apanhados, os totalitários agradecem a acusação de plágio e voltam ao fingir suave: foi só um "piscar de olho"... E as galinhas, cocorocó, e só."

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