Do artigo, com o mesmo título, da autoria da jornalista Mafalda Anjos, Directora Adjunta da revista "Visão":

Na blogosfera, multiplicam-se os textos com trocas de insultos e acusações. Só um exemplo? No blogue “Insurgente”, um post com o título “Les Miserables”, escrito por altura no anúncio do acordo à esquerda, chamou ao trio Costa, Catarina e Jerónimo “Frente de Golpistas, Lunáticos e Totalitários”. “O nojo que me suscita esta gente (que de gente tem muito pouco) e que chega a ser físico é bem justificado. (…) Putedo rasca é o que são, do primeiro à última.”, escreve o autor. Não é caso isolado. Do lado de lá da barricada, há comentários com o mesmo tom a disparar contra o “inimigo” de direta.
Não tenhamos dúvidas, na internet, em matéria de crispação política e verborreia, voltámos aos tempos do PREC. Ou pior ainda. O comentário nos media (tv e imprensa) já espelha bem a crispação que se vive num país onde se experimentam novos territórios políticos – perigosos, porventura pantanosos. Mas nada como o que se vê online, onde vale tudo, até tirar olhos.
Há razões de fundo para tal. É o reverso da medalha deste maravilhoso mundo novo. Na net as pessoas mostram as suas facetas mais obscuras porque estão escudadas atrás de um ecrã. Dizem coisas sobre outros e aos outros que jamais diriam frente a frente. E os fenómenos de construção tribal e de identificação inter-pares funcionam especialmente bem – se alguém se excede na linguagem ou vai mais além no tom do comentário, facilmente consegue uns likes extra. As pessoas gostam de incentivar os excessos alheios a uma distância segura. O bom senso e a tolerância não contribuem para a popularidade online.
Mas se por um lado as redes sociais são palco para discussões extremadas, por outro estimulam o pensamento único. Ao contrário do que se podia pensar, sendo as redes territórios de livre expressão, a pressão dos pares e amigos faz com que tendam todos a dizer a mesma coisa dentro dos mesmos grupos. Ninguém arrisca sair do rebanho, ir contra a corrente. Um dia está Portugal inteiro a bater na Pipa, a bloguer da mala da Chanel (ainda alguém se lembra disso?), no dia seguinte o alvo são os bifes da Isabel Jonet, a seguir ataca-se José Rodrigues dos Santos por causa do comentário em direto, depois manda-se abaixo o Pedro Arroja e a sua crítica às “esganiçadas”. Quem não alinha na pancadaria em massa está out, e ninguém quer ficar out.».../...
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