Aumentou o poder de resolução dos testes e dos exames complementares de diagnóstico, o que permite salvar vidas de pessoas que já apresentam sintomas ou sinais, mas "quando se intervém em pessoas que estão bem, a probabilidade de provocar dano é considerável".
Os rastreios e os exames médicos exercem um sentimento de segurança nas pessoas, mas feitos em excesso podem revelar-se prejudiciais. Para Carlos Martins, médico de família e colaborador da Unidade de Medicina Geral e Familiar do Departamento de Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, é necessário implementar uma filosofia de prevenção quaternária para "proteger pessoas de intervenções médicas cuja probabilidade de causar dano é superior à probabilidade de causar benefício".
O tema, polémico, mesmo entre médicos, foi o escolhido para encerrar o 19.º Congresso Nacional de Medicina Geral e Familiar. Sob o título "A saúde do doente será a minha primeira preocupação", Carlos Martins renovou o alerta: "Há um padrão consumista da saúde que constitui um novo factor de risco".
Defendeu, por isso, a implementação de estratégias de educação para a saúde. "As pessoas têm a noção de que, quando tomam um medicamento, esse medicamento tem efeitos secundários. Mas os exames também têm efeitos secundários", explicou. A seu ver, o paciente tem que ser sensibilizado para o uso adequado de exames médicos e intervenções preventivas e com informação sobre os riscos. Medidas que devem também passar por um melhoramento dos indicadores que são usados para avaliar o desempenho dos médicos.
"Esta procura de intervencionismo médico excessivo tem a ver com o fascínio que as pessoas têm pelo diagnóstico precoce. Não significa que conduz sempre a um melhor resultado. Isso é um mito. Muitas vezes pode conduzir a um pior resultado", argumenta o médico de família.
Um fascínio que, regra geral, gera um sentimento de segurança à população e que alimenta a indústria ligada aos meios complementares de diagnóstico, a indústria farmacêutica e que "rende votos" à classe política sempre que é criado mais um plano de prevenção.
"Pergunto-me se não estaremos, no mundo ocidental, a atingir um ponto de viragem. Parece-me a mim que a preocupação já não será conseguir saúde para todos, o lema da primeira Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, mas a constatação de termos saúde em excesso para muitos. Quando falo em excesso, falo da forma como algumas pessoas estão a utilizar a Medicina e os recursos de saúde. Estou a falar do excessivo intervencionismo médico no ciclo vital do ser humano", refere Carlos Martins .
(continua)
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