terça-feira, 1 de setembro de 2015

O incrível negócio dos medicamentos inovadores

.../---«Poderia pensar-se que alguns medicamentos são mais caros porque custa mais produzi-los, mas não é necessariamente assim, garante Pedro Pita Barros, professor de Economia da Universidade Nova de Lisboa. “Não foi o custo dos medicamentos inovadores que disparou mas sim o preço pedido.” A distinção é importante, sublinha, porque, ao contrário do que acontece com outros bens, os preços elevados de alguns fármacos não refletem o que custou produzi-los. Sem surpresa, esse custo é algo que as farmacêuticas não estão dispostas a revelar, o que deixa os clientes (sobretudo os Estados e as seguradoras, mas também os pacientes) numa posição de extrema vulnerabilidade, negociando com uma única empresa que detém o exclusivo da cura e que, por isso, pode exigir o preço que quiser.



Por cada paciente tratado com sofosbuvir, Portugal pagará cerca de 20 mil euros. Mas, segundo investigadores da Universidade de Liverpool, um tratamento de 12 semanas custará entre 60 e 120 euros a produzir. Pegando nesse valor, Pita Barros e os seus colegas espanhóis calcularam os custos de investigação e também os de marketing e chegaram à conclusão que um preço final razoável nunca deveria ultrapassar os 300 euros, preço da versão genérica vendida na Índia, onde a patente foi recusada. No “Huffington Post”, Jeffrey Sachs escreveu que o fármaco era “um medicamento extraordinário”, capaz de salvar vidas, mas mostrava também a ganância dos laboratórios, gerando “lucros privados arbitrariamente elevados pagos pelo contribuinte”.

As farmacêuticas justificam-se com a necessidade de recuperar os custos de investigação, mas o argumento não convence os críticos. Para o desmontar, basta recorrer à calculadora. Veja-se novamente o caso do sofosbuvir: a Gilead comprou-o por cerca de 10 mil milhões de euros, o que pode parecer uma fortuna, mas recuperou o investimento em menos de um ano — o fármaco faturou mais de 11 mil milhões de euros em 2014. Se se considerar antes o custo de investigação e desenvolvimento, que Jeffrey Sachs estima em menos de 300 milhões de euros, este foi recuperado em poucas semanas.».../...

(continua)

(Excerto do artigo intitulado "Vender por €100 mil aquilo que se produziu a €100: o incrível negócio dos medicamentos inovadores", da autoria de Nelson Marques, publicado no jornal "Expresso" online de 30 de Agosto último)

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