"Estamos numa situação caótica. As nossas crianças estão fechadas, amarradas, em casa, não têm liberdade de acção, não vão a pé para a escola, não brincam na rua. Estamos a viver uma situação insustentável, o que designo por sedentarismo infantil", disse à Lusa Carlos Neto, professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, coordenador do estudo português sobre mobilidade infantil, realizado em 16 países.
O estudo português – Independência de Mobilidade das Crianças – data de 2012, mas só em Agosto último foi publicado, integrado no estudo internacional do instituto britânico Policy Studies Institute, denominado Independent Mobility: An International Comparison (Mobilidade Independente: Uma Comparação Internacional).
O estudo português concluiu que há alterações necessárias de políticas públicas "mais ousadas", pensadas para as crianças para inverter a actual situação, políticas que permitam aos mais novos brincar e desfrutar do espaço exterior, que permitam uma maior harmonização entre a vida familiar, escolar e em comunidade, e políticas urbanas que incluam uma planificação "mais amiga" das crianças e as encare como parte integrante e participante da sociedade.
O coordenador do estudo defende que em Portugal as crianças têm cada vez menos liberdade para serem crianças e fazerem coisas necessárias ao seu crescimento como correr, nadar, dançar, subir às árvores. Afirma que se estão a criar crianças "imaturas e sedentárias" e que as consequências se vão pagar a médio e longo prazo.
Um dos aspectos estudados neste trabalho, o trajecto casa-escola, mostra que apenas 35% das crianças com 8 ou 9 anos vão a pé para a escola e que nesta faixa etária nenhuma vai de bicicleta. As que são levadas de carro são a grande maioria (56%).
"Aqui vai tudo de carro para a escola. As crianças visualizam o espaço físico pelo vidro do automóvel. Estamos a criar uma situação desesperada. Valia a pena por isto em discussão em campanha eleitoral", defendeu Carlos Neto.
Só por volta dos 12 anos a grande maioria das crianças portugueses inquiridas neste estudo (80%) teve permissão para ir sozinha para a escola, ou atravessar sozinha estradas municipais. Só aos 15 anos a maior tem autorização para andar sozinha de transportes públicas ou para circular de bicicleta sem supervisão em estradas principais.
(Adaptado da notícia intitulada "Crianças portuguesas estão mais sedentárias e com menos liberdade para brincar", publicada em página online da TVI24)
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