«Há uns anos, um
juiz, para explicar a necessidade de detenção do deputado Paulo Pedroso,
alinhou vários indícios. Um deles era por o deputado, ao telefone,
tratar por "querida" alguém com voz de homem. E, na verdade, foi forte
indício: o de que os investigadores nem confirmaram com quem o suspeito
falava (tratava-se duma amiga com voz grossa). Agora, as transcrições de
conversas telefónicas de Paulo Portas com um amigo fizeram crer a Ana
Gomes que ali havia tramoia. Humm, havia um "aquilo" que não fazia
sentido numa frase e um "Canals" (nome de empresário com esquemas
financeiros) que fazia sentido demais... Com um só mistério Hitchcock
fazia de um assassínio uma obra de arte, com dois mistérios Ana Gomes
fez um hara-kiri. O Expresso teve acesso àquelas escutas e ouviu o
seguinte: em vez de "aquilo", Kiel, e em vez de "Canals", canal. Como os
apanhados na escuta falavam de uma viagem à Alemanha e como Kiel tem um
célebre canal vizinho, a conversa era tão inocente como uma querida de
voz grossa. No outro dia, a ministra da Justiça prevenia-nos, embora de
forma ínvia e irresponsável (porque vinda da chefe da coisa), contra as
escutas. Nisso ela era exata: o grave não é o que nós dizemos, mas os
dislates que dizem terem-nos escutado. Mas, caro leitor, caso um juiz,
citando o processo, lhe pergunte se você gritou ao telefone "o juiz que
autorizou esta escuta que má acatar no Kung Fu!", confirme. Se está no
processo, é verdade.»
(Crónica de opinião de Ferreira Fernandes, com o mesmo título, publicada ontem no jornal "Diário de Notícias")
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