.../...«O próprio sucesso exportador da Alemanha já sofreu um abalo - em
Agosto passado as exportações baixaram quase 6%. O conflito na Ucrânia,
envolvendo a Rússia, explica apenas uma parte deste recuo. As
exportações de máquinas e equipamentos para os chamados países
emergentes são afectadas pelo abrandamento geral dessas economias. A
China, por exemplo, cresce actualmente a um ritmo de quase metade do que
acontecia há dez anos.
Mais grave é que a competitividade exportadora da Alemanha se deve
não tanto a melhorias de produtividade (subida média anual de 0,3%,
entre 2007 e 2012, contra 1,5% nos EUA), mas sobretudo à compressão dos
salários. Estes, descontando a inflação, encontram-se ao nível dos anos
90.
Há mais de sete milhões de 'mini-empregos' na Alemanha, agravando as
desigualdades de rendimentos. E um quinto das crianças vive em situação
de pobreza, o que é chocante num país tão rico. Acresce que o rápido
envelhecimento da população alemã deverá retirar 200 mil activos por ano
da força de trabalho. Surpreendentemente, Merkel aceitou baixar (em vez
de subir) a idade da reforma.
.../...
Há uma década que a economia alemã cresce pouco mais de 1% ao ano.
Merkel prega reformas aos outros, mas não as faz em casa - por exemplo,
na liberalização no sector dos serviços.
O 'fetichismo' orçamental dos alemães, imposto aos seus parceiros no
Euro, não prejudica apenas estes. Prejudica a própria Alemanha. Contra o
que diz Berlim, o actual modelo alemão falhou; não é um exemplo a
seguir.»
(Excertos do artigo de opinião de Francisco Sarsfield Cabral, intitulado "Falhas no motor alemão", publicado no semanário "SOL" de 31 de Outubro de 2014)
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