O nosso telefone deveria simplesmente ser-nos útil e não prestar-se a servir uma qualquer criatura, de voz inquisitorial, que nos liga intempestivamente, quase sempre às horas menos próprias, com o objectivo de inquirir da nossa opinião acerca do partido político XPTO, do detergente Y, do vinho Z ou do leite W. Um breve inquérito, poucos minutos, dizem. Que se arrasta por meia-hora. Passando por querer saber qual a nossa idade, se somos casados e se temos (quantos?) filhos, se possuímos carro ou, pelo contrário, se andamos em transporte público ou preferimos o pedestrianismo. Algumas vezes, apresentam perguntas de resposta múltipla e pedem-nos que escolhamos uma. Tarefa ainda mais complicada, já que geralmente não nos revemos em nenhuma.
Há uns tempos atrás, ligaram de uma clínica médica privada para nos convidar para um exame cardiovascular gratuito! Mas condicionado a determinados dia e hora, não susceptível de alteração. Notou-se o tom de voz escandalizado, ofendido, da menina do telefone quando o convite foi recusado.
Ontem tive a "oferta" de (mais) um cartão de crédito. Anuidade gratuita, garantiam, aceite em todo o mundo, não sei se também em Marte, não seria necessário abrir qualquer nova conta ou trocar de Banco, com óptimos seguros associados e até ofereciam um telemóvel com 10 euros de chamadas incluídas, se aderíssemos. Como foi difícil convencer o nosso interlocutor de que não estávamos interessados em aceitar tantas mordomias! Que seca!
E assim, o telefone, um apetrecho doméstico que deveria estar apenas ao nosso serviço, para nosso simples e cómodo usufruto, acabou por ser transformado em objecto ameaçador, incómodo, abominável até, pela utilização abusiva que hoje é feita dele.
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