sexta-feira, 15 de março de 2019

O sobre-registo (“registrite”) no encontro médico-paciente

«As exigências relativas aos registos electrónicos estão a apoderar-se da consulta nos centros de saúde, perturbando o raciocínio clínico e a relação entre médicos e pacientes e retirando o paciente do centro dos cuidados.

É urgente agir para devolver aos registos a sua função primordial de apoio à prestação de cuidados.»

.../...«Até há apenas 15 anos, a consulta consistia numa entrevista entre duas pessoas, em que uma delas, o médico, tirava algumas notas num processo clínico em papel. Agora, podemos afirmar que a consulta se tornou num encontro em que o médico, além de fazer o que fazia antes, tem de prestar atenção a um ecrã que lhe pede muito mais do que o que lhe dá. E podemos até afirmar que o ecrã funciona como fator de distração face a tarefas chave da consulta como escutar alguém que sofre, fazer uma boa anamnese perante um sintoma comum, ou fazer um bom diagnóstico diferencial sem que nada escape, ou, ainda, capacitar, negociar e partilhar com o paciente decisões sobre a sua saúde.

As queixas de uns e outros estão sustentadas por estudos científicos que revelam que os médicos de família passam mais de metade do seu tempo diário de trabalho ao computador, quer na presença do paciente, quer fora das consultas. E, mais preocupante ainda, quando na consulta se estuda a relação médico-computador-paciente o médico parece olhar mais tempo para o computador do que para a pessoa.

.../... Em conclusão, os registos informatizados e o excesso de registos estão a modificar profundamente a natureza do trabalho clínico, contribuindo para a burocratização dos cuidados. É necessário pôr a tecnologia ao serviços das pessoas, da prestação de cuidados e da relação clínica, para evitar que os médicos trabalhem “centrados nos registos” ou “centrados nos indicadores” em vez de “centrados na pessoa”

Para mudar a situação atual de “registrite” e burocratização das consultas os médicos precisam agir, não só individualmente mas, sobretudo, como um coletivo profissional comprometido.»

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