Director do "Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto" (IPATIMUP), Manuel Sobrinho Simões fala de um "excesso de intervencionismo da medicina" no tratamento do cancro, sobretudo em idades mais avançadas.
Sobrinho Simões considera que "há muitos cancros que deveriam ser deixados em paz". É com este argumento que o patologista critica "o excesso de intervencionismo da medicina" no tratamento do cancro, sobretudo em idades mais avançadas.
Em declarações à Renascença, Sobrinho Simões, considerado, em 2015, o patologista mais influente do mundo, pela revista "The Pathologist", defende que, "embora pareça paradoxal, temos assistido a um aumento da incidência do cancro, a par com o aumento da idade da população, mas com uma reduzidíssima taxa de mortalidade entre as pessoas com 70, 80 e mais anos, porque os cancros, simplesmente, não evoluem na esmagadora maioria dos casos".
Sobrinho Simões rejeita a ideia de que haja um excesso de diagnóstico de cancros. "O que há, e está errado, é um sobretratamento mutilante por excesso", defende, o director do IPATIMUP, dividindo responsabilidades entre os doentes - pelo facto de colocarem "uma pressão imensa sobre os médicos" e os próprios clínicos - pelo facto de, "na dúvida, tenderem a fazer tratamentos invasivos desnecessários ou exames mais regulares para verificar se a doença vai ou não evoluir".
Esta é, na perspectiva de Sobrinho Simões, uma tendência "mais comercial", transversal a todo o sistema de saúde português.
"É horrível pensar que os hospitais percebam que, se aumentarem muito o número de consultas, isto permite-lhes aumentar o orçamento. É um círculo vicioso, porque estamos a pagar os actos médicos em vez de pagar a saúde", argumenta o director do IPATIMUP.
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