«Ontem, ao receber uma mensagem por WhatsApp, fiquei por momentos a pensar que era um assassino em série e que deveria ser preso na cadeia mais sinistra do país. Afinal, para aqueles que se manifestaram no final do mês de julho em Loures contra o festival do caracol saloio, alegando que se nós não gostaríamos de ser cozidos vivos eles (caracóis) também não, eu sou um pecador sem perdão.
A mensagem, apesar de ter um mês, circula agora a toda a velocidade para quem não tenha dado por ela na altura. Na foto, vê-se um grupo de pessoas com cartazes na mão protestando contra o extermínio dos moluscos gastrópodes terrestres, e como eu já devo ter comido centenas de pratos de caracóis desde que a época deles abriu, sou, seguramente, um assassino em massa.
A dúzia de pessoas que se manifestava tem todo o direito de o fazer, nada contra, mas por que razão não vão erguer cartazes idênticos no oceano sempre que avistarem uma orca ou um tubarão, já que cada vez que um desses monstros abre a boca lá vão umas tantas toneladas de peixinhos à vida?
A história é um bom exemplo dos tempos estranhos que vivemos, em que o absurdo não tem limites - com todo o respeito por quem pensa diferente de mim. Mas o que dizer, por exemplo, de o último filme em que o ator Kevin Spacey entra só ter tido uma dúzia de espetadores no fim de semana em que estreou em dez salas de cinema americanas? É pelo facto de ter sido acusado de apalpar uns tantos rapazes - Spacey reconheceu que é gay -, já que não vi até agora qualquer prova de que tenha tentado violar alguém, que deixou de ser o brilhante ator que sempre foi? O moralismo bacoco dos americanos é capaz de ser copiado por muitos europeus se o filme estrear na Europa. Eu, que tenho ido muito menos vezes ao cinema do que gostaria, certamente que não perderei “Clube dos Bilionários”, contribuindo simbolicamente contra esta nova forma de inquisição e de ditadura. O mundo está mesmo a ficar perigoso...»
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