domingo, 20 de maio de 2018

O futebol em Portugal

Com a devida vénia, eis um excerto do artigo de opinião de João Miguel Tavares publicado ontem no jornal "Público", com o título "O futebol português é um meio feio, sujo e mau",


.../...«O futebol só pode ser consumido como as salsichas – ignorando como são feitas, para nos poderem saber bem. Não é possível assistir ao que se passa nas negociatas das transferências, nas queixas sobre os árbitros, nas picardias entre directores de comunicação, e achar que o futebol é um excelente meio para atrair pessoas sérias. Não é. A probabilidade de haver gente profundamente honesta dedicada ao negócio do futebol em Portugal é mais ou menos semelhante à probabilidade de haver gente profundamente honesta dedicada ao negócio das bebidas alcoólicas na América dos anos 20. Isso significa que toda a gente é igual? Claro que não - tal como em Chicago nem toda a gente era Al Capone.

Contudo, não há dúvida de que o futebol tem tudo para ser um lugar mal frequentado: milhares de milhões de euros transaccionados anualmente; passes de miúdos sem barba nas mãos de agentes todo-poderosos; expectativas de lucros astronómicos (em quantas actividades económicas legais o preço de um activo pode valorizar 1000% em oito ou nove meses?); exércitos de gandulos ligados às claques desportivas a servirem de retaguarda intimidatória; ligações fortes ao poder político central, às autarquias e até mesmo à polícia e às magistraturas; presidentes com tiques de soba a agirem praticamente sem escrutínio; ocupação do espaço mediático em programas recordistas de audiência e com representantes a papaguear a cartilha dos clubes; e tudo isto, claro está, embrulhado num fanatismo de massas, que faz com que muitas pessoas respeitáveis percam qualquer réstia de espírito crítico quando se trata de falar dos clubes do seu coração. Gostar de bola? Acho impecável. Também gosto muito. Pôr as mãos no fogo por quem quer que seja que mande em clubes de futebol? Jamais.»

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