segunda-feira, 26 de março de 2018

Redes sociais: uma questão política

O artigo de opinião, com o mesmo título, da autoria de Manuel Pinto, publicado hoje no portal da Rádio Renascença. Com a devida vénia,

«O escândalo mais recente do tráfico de dados dos utilizadores por parte do Facebook a uma escala que a maior parte não julgava admissível vem reafirmar que estamos perante problemas muito sérios. Mas são problemas sérios que não dizem respeito apenas aos outros, mas a cada um de nós. Mesmo àqueles que, por não serem grandes utilizadores de redes sociais, julgam que estão imunes.

Quantos de nós usamos, por exemplo, o WhatsApp e desconhecemos que também essa empresa, tal como o Instagram, foram já há algum tempo adquiridas pelo Facebook?

Tal como o Twitter ou o Google que detém o Youtube, o Facebook não apenas não protege os nossos dados, como os vende a anunciantes e a campanhas políticas, construindo perfis que chegam a ser mais completos do que os próprios utilizadores seriam capazes de construir. E todos temos visto quão ineficazes são no combate à desinformação e às notícias falsas.

Chegou o tempo de deixar de ser ingénuo, quando se utiliza as redes e media sociais, deixando de escancarar as portas para que nos espiolhem a vida, quer no que lá colocámos, mesmo que um mero “gosto” ou “emoji”, quer nas definições da nossa conta (será que temos ideia de que a recolha de informação de cada utilizador envolve perto de sete dezenas de critérios e indicadores?) . Perante os mais recentes acontecimentos, não foram poucos os que decidiram suspender ou cancelar a sua pertença à rede (#DeleteFacebook). Por muitos que sejam, serão sempre uma gota de água no oceano dos dois mil milhões de utilizadores. Mas é um movimento interessante, ainda que de motivações diversas (revolta, desencanto, medo, cansaço…). Contudo, a maior parte precisa dessa e de outras redes para trabalhar, para manter o contacto com familiares e amigos ou simplesmente para ter a sensação de que existe e é gente.

Para além da atitude individual de cada um, a questão é necessariamente política. E há duas linhas de ação que se torna necessário adotar. Uma é a da regulação no sentido de exigir às plataformas transparência e respeito pelos direitos individuais e pelos valores fundamentais das sociedades democráticas. O outro é a formação das pessoas, não apenas das mais jovens, sobre riscos, processos de autodefesa, lógicas e modos de operar das plataformas e sobre formas criativas e úteis de usar as redes, respeitando-se a si mesmo e aos outros. Por ora, não estamos a ver muito nem uma coisa nem outra.»

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