A oportuna crónica de Ricardo Araújo Pereira, com o mesmo título, plena de actualidade, publicada na revista "Visão" do dia 8 de Fevereiro. Com a habitual vénia,
Esta semana tenho estado a dar o meu passeio anual pelos bens e serviços que adquiri nos doze meses anteriores. É contabilidade e nostalgia. Um álbum de recordações do consumo. Depois de um ano a pedir facturas e a fornecer números de contribuinte, dedico-me agora a verificar facturas e a reintroduzir números de contribuinte. É pena que o sistema fique por aqui. Gostaria muito de manter o convívio com estas facturas por mais algum tempo. Tenho a certeza de que, com um pouco de imaginação, o Ministério das Finanças conseguiria encontrar uma maneira de, depois do pedido e da validação, obrigar o cidadão a realizar mais duas ou três operações fiscais com estas mesmas facturas. Uma revisão da validação, por exemplo. Ou a verificação da revisão da validação. Ou a comemoração das bodas de prata da validação, efectuada 25 anos após o pedido da factura.
Enquanto o processo de validação se mantém como está, o contribuinte tem o gosto de se confrontar com facturas que foram inseridas e validadas, outras que foram inseridas mas estão por validar, e outras ainda que nem foram inseridas nem estão validadas. Ninguém sabe porque é que o sistema deixa facturas por validar ou inserir, mas todas estas três modalidades oferecem diferentes prazeres. A simples verificação conforta, mas a validação realiza-nos. E a reintrodução completa de facturas requisitadas há meses exercita a memória. A que se referem estes 12 euros e meio que paguei à “Manuel Antunes, Lda” a 12 de Maio de 2017? Será uma despesa de Habitação? Saúde? Ou Outros? Não faço a mínima ideia. Por isso, em princípio, é Outros. É impressionante o dinheiro que, anualmente, gasto em Outros.»
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