quarta-feira, 21 de junho de 2017

No concurso que terminou ontem, mais de 340 médicos ficaram sem acesso a especialidade médica

O concurso que terminou ontem deixou 347 médicos sem acesso à especialidade médica, um aumento de 63% relativamente ao ano passado, de acordo com a Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM).


A estes 347 médicos, de acordo com um comunicado da ANEM, juntam-se outros 266 clínicos que desistiram do concurso e que tentarão a candidatura no próximo ano, "agravando assim o problema da insuficiência de vagas para especialidade".

A ANEM destaca a "forma harmoniosa" como decorreu o processo de escolha de vagas, a publicação atempada do calendário para a escolha da área de especialização e do mapa final de vagas, assim como a divulgação online e em tempo real das vagas disponíveis a concurso pela plataforma desenvolvida pelos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde.

No entanto, segundo Ana Rita Ramalho, presidente da ANEM, "as melhorias administrativas não poderão nunca mascarar os efeitos deletérios que advêm do desinvestimento na saúde que se verifica no nosso país", que resultaram na suspensão da formação de 158 médicos em 2015, de 213 em 2016, de 347 médicos este ano. A ANEM lamenta ainda que, apesar de a situação já constituir uma realidade em constante agravamento, "poucas ou nenhumas medidas tenham sido tomadas a curto, médio ou longo prazo para colocar um término à desintegração da formação médica".

"A formação de um estudante de Medicina não se esgota no ensino pré-graduado, devendo ser completada no pós-graduado através do Internato Médico, conducente ao grau de especialista. A sua interrupção apresenta consequências nefastas para a qualidade da prestação dos cuidados de saúde praticados em Portugal", reforça Ana Rita Ramalho. O desafio, segundo a ANEM, está na necessidade de encontrar o equilíbrio entre o número de médicos com as qualificações desejadas, nas áreas geográficas em carência, para corresponder às necessidades, quer das populações, quer dos sistemas de saúde, ambos em constantes mudanças.

A Associação defende que este equilíbrio poderá ser alcançado com um verdadeiro planeamento em recursos humanos diferenciados, adequado às reais necessidades do país, sem o qual – segundo a ANEM – "incorremos no risco de perder um Serviço Nacional de Saúde forte e que, orgulhosamente, dizemos ser um dos melhores do mundo".

"A ANEM rejeita a possibilidade de o médico indiferenciado passar a constituir a realidade do nosso Serviço Nacional de Saúde, não só por defraudar as legítimas expectativas dos médicos recém-graduados, mas sobretudo por comprometer a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde, que é de todos e deve ser zelado por todo o cidadão português", conclui.

LUSA/SO/SF

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