A realização do drama em três actos:
“Liberdade, igualdade, fraternidade”.
É certo que cresceu o caudal da liberdade:
Muitos muros caíram,
Muitas cadeias se abriram,
Muitos presos saíram
Para as praças da cidade,
E cantaram com os pardais
A canção da liberdade.
E é também verdade
Que as páginas da igualdade
Se espalharam por toda a parte,
Desde a escola ao trabalho, à família,
Desde a Terra a Marte.
Mas a fraternidade, Senhor,
Por que tem tanto bolor,
Por que não chegou ainda a ver o dia,
E sofre de renitente paralisia?
Pela liberdade, podemos lutar;
E o mesmo se pode dizer da igualdade.
Mas, em contraponto,
Pela fraternidade não adianta lutar,
Porque a fraternidade não se conquista,
A fraternidade recebe-se,
Irmão nasce-se.
Um irmão não se define por aquilo que é,
Por aquilo que tem,
Por aquilo que vale,
Mas por aquilo que lhe é feito,
Antes e independentemente da sua vontade.
A fraternidade supõe um Pai,
E é por isso que a sociedade laica não pode produzir a fraternidade,
Porque se funda precisamente sobre a ausência de Pai.
Ensina-nos, Senhor,
A receber,
Primeiro,
O teu amor.»
(D. António Couto, "Oração da Manhã", Rádio Renascença, 13 de Janeiro de 2017)
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