sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Ainda a Linha Saúde 24, o Bastonário cessante da Ordem dos Médicos e, agora, também o Director Geral da Saúde

«As palavras do Director Geral da Saúde à comunicação social acerca de uma alegada guerra de classes alimentada por mim, enquanto Bastonário da Ordem dos Médicos, são profundamente lamentáveis e de uma espantosa indigência intelectual. São afirmações intoleráveis num Director Geral da Saúde, que deve gerar consensos e não inventar fantasmas, que deve apresentar dados técnicos e não fazer despropositadas análises de intenção, ofensivas e politiqueiras, e exigem a defesa da honra, a razão de ser deste texto. Os comentários que tenho proferido sobre a Linha de Saúde 24 (L24) visam unicamente melhorar o atendimento aos cidadãos, sempre em defesa do interesse público e da transparência, em nada afectando a dignidade dos enfermeiros.

Pretende-se definir como meta que os doentes/utentes sejam atendidos pelo seu enfermeiro e/ou médico de família, que os conhece, e não por um enfermeiro com um telefone e um rígido e frágil protocolo, que muitos contactantes nem entendem, e que nem sabe com quem está a falar. Só uma mentalidade distorcida pode ver corporativismos ou guerras profissionais neste objectivo.

O que não é admissível é que quando um utente telefona para o seu Centro de Saúde tenha de pagar uma elevada taxa moderadora pela ‘consulta telefónica’, que há muito deveria ter sido revogada, que pode variar entre 2,5 e 4,5 euros, penalizando o utente que procura falar com a sua equipa de família, o que, pelos vistos, não preocupa a DGS (http://www.acss.min-saude.pt/wp-content/uploads/2016/09/FAQ_taxas-moderadoras_Abril-2016-05-05.pdf).

No caso concreto, o que verdadeiramente dignifica um enfermeiro, na minha modesta opinião, é, como enfermeiro de família, atender livremente os seus utentes, conhecendo-os, e, no seio da equipa multiprofissional de saúde/família, aconselhá-los de forma personalizada e adequada, em vez das pessoas serem obrigadas a telefonar para um call-center onde um enfermeiro reduzido a um protocolo os atende impessoalmente.

O que melhor traduz o humanismo e a qualidade do SNS e permite reais ganhos em saúde, precisamente o que preconizo, é o atendimento directo pelos profissionais de saúde que conhecem e acompanham o doentes desde o ‘nascimento até à morte’ e que têm acesso ao seu histórico clínico.

Para além disso, sem qualquer corporativismo, a Ordem dos Médicos já deu um parecer NEGATIVO a uma proposta de 'linha telefónica' para ‘consulta’ com médicos mas feita por vídeoconferência, o que, apesar de tudo, permitia ver o doente. Mas não possibilitava qualquer consulta, pois não é possível fazer a esmagadora maioria dos diagnósticos sem a observação física do doente.

PROPOSTA CONCRETA: que a taxa moderadora das consultas telefónicas para o Centro de Saúde seja reduzida para 80 cêntimos e que o Ministério da Saúde pague dois euros por cada telefonema recebido no Centro de Saúde (ao próprio Centro de Saúde/UCSP/USF), assim beneficiando os utentes e reforçando o orçamento dos Cuidados de Saúde Primários, permitindo-lhes, por exemplo, investir na contratação de mais recursos humanos, nomeadamente mais enfermeiros e secretários clínicos, e alargar horários. O objecto desta proposta é o de investir no SNS e não em negócios telefónicos. E porque não o mesmo princípio para os Hospitais?

.../... A DGS diz que audita a linha? Auditorias não independentes nunca são fidedignas. As auditorias da DGS nunca detectaram que a L24 não comunicava há um ano com o Pediátrico de Coimbra, a maior urgência pediátrica do centro do país? E nunca nada aconteceu nem nenhuma criança sofreu... E nunca detectaram os graves problemas de comunicação da L24 com os Centros de Saúde e a consequente desestabilização de consultas com tempos apertadíssimos? E nunca nada aconteceu... E nunca detectaram que a L24 envia doentes para consultas de desabituação tabágica que não funcionam? E nunca nada aconteceu... E nunca analisaram porque é que os anteriores enfermeiros coordenadores foram saindo (importante analisar...)?... E nunca detectaram que há pessoas que telefonam para a L24 apenas para terem isenção de taxa moderadora ou passarem à frente de doentes mais urgentes ou em espera há mais tempo? Etc.. A preocupação da DGS é apenas de dizer que ‘tudo vai bem’!

As auditorias da DGS são como a auditoria ao bloco cirúrgico do Hospital Dª Estefânia, na antiga maternidade, para onde deveria ser transferida a MAC, que referia que as respectivas instalações eram excepcionais, mas que uma equipa técnica da Ordem dos Médicos foi proibida de visitar?... Não queremos mais destas auditorias... Queremos auditorias sérias, independentes e de qualidade. Mas alguém acredita em auditorias feitas em casa própria?».../...

(Excertos da Opinião do dr. José Manuel Silva, Bastonário da Ordem dos Médicos, publicada ontem no seu blogue pessoal)

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