quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

O funeral de Estado de Mário Soares: da glorificação à mentira

Excerto do comentário de Eduardo Cintra Torres, intitulado "RTP: menos 7 milhões em conteúdos", publicado no passado dia 15 de Janeiro no jornal "Correio da Manhã". Com a devida vénia:


«Da glorificação à mentira

O funeral de Estado de Mário Soares correu sem incidentes na televisão. Como há 25 anos analisaram Dayan e Katz, a telecerimónia de coroação é a mais completa, a mais ritualizada; visa não só homenagear a personagem como inscrevê-la na história da comunidade, cristalizando reconhecimento e glória. O directo, de grande aparato, separa a cerimónia do quotidiano; reapresenta tal e qual todos os passos e a caracterização oficial do evento; mostra e explica a simbologia; acentua o carisma do falecido e coloca entre parêntesis eventuais conflitos e memórias negativas a ele associadas; o jornalismo esquece parcialmente a objectividade e fervilha em glorificação — não é problemático, faz parte. Tudo isso aconteceu agora. Mas, azar, não houve multidão nas ruas. E, sendo ela necessária para legitimar o significado da cerimónia, as nossas televisões inventaram-na. Esconderam em planos fechados a ausência de multidão e, pior, disseram que ela existia. Mentiram.»

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