Do artigo de opinião de João Miguel Tavares, intitulado "O terrorismo assusta. Mas funciona?", publicado ontem no jornal "Público", com a devida vénia:
.../... «A investigadora Page Fortna, da Universidade de Columbia, publicou há cerca de um ano um estudo intitulado Do Terrorists Win? Rebel’s Use of Terrorism and Civil Wars Outcomes onde analisou 104 grupos rebeldes a combater em guerras civis desde 1989, muitos dos quais utilizando métodos de violência indiscriminada contra a população. A delimitação temporal de Fortna tem a vantagem de deixar de fora os grupos que recorreram ao terrorismo na época das descolonizações, tanto em África como no Médio Oriente, ao mesmo tempo que relembra que quer estejamos a falar do Daesh ou da Al-Qaeda, os atentados no ocidente, apesar de toda a sua cobertura mediática, são um part-time: a maior parte do tempo os seus membros estão a combater em guerras civis, seja no Afeganistão, na Síria ou no Iraque. Quando Page Fortna compara a capacidade dos grupos terroristas com a dos grupos não-terroristas para derrubarem governos, verifica-se que a eficácia dos segundos é muito superior à dos primeiros, que é praticamente nula. A investigadora resumiu assim as suas conclusões: “Sim, os grupos terroristas são assustadores, mas dessa capacidade para assustar não deriva qualquer eficácia política ou militar.”
Eu sinto-me sempre obrigado a repetir isto de cada vez que há um atentado terrorista porque o próprio acompanhamento mediático destes acontecimentos convida às mais desvairadas suposições. Quem ouça certos comentadores parece que a instituição do Califado no coração da Europa é só uma questão de anos, dada a lamentável fragilidade do nosso sistema – talvez em 2022, como no último livro de Michel Houellebecq. Calma. O terrorismo é excelente a prolongar conflitos durante anos, através de acções espaçadas, de baixa intensidade e que envolvem muito poucos meios, mas a única conquista política que alcançarão é algum medo, alguns recrutas e nada mais.
O 11 de Setembro foi uma grande vitória para a Al-Qaeda, mas a médio prazo aquilo que Osama bin Laden conseguiu foi assinar a sua sentença de morte e a sentença de morte do seu grupo, que hoje é uma sombra do que já foi. O Daesh faz – ou outros fazem por ele – atentados espectaculares na Europa, mas as suas chefias são dizimadas e o seu território diminui de dia para dia, apesar de todos os voluntários oriundos do ocidente. Estes são os factos. Os ataques nas nossas cidades certamente que se irão repetir, de formas trágicas e engenhosas. Mas nenhum grupo terrorista é capaz, só por si, de mudar radicalmente o nosso modo de vida.»
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