
António Costa é o novo Oliveira da Figueira. Enquanto vai subindo alegremente nas sondagens (no barómetro mensal da Aximagem, o PS já está seis pontos à frente do PSD), o país continua a comprar-lhe vários pares de skis para usar no deserto. Ainda na semana passada, quando confrontado com os péssimos números do crescimento, do desemprego, do investimento e das exportações, o primeiro-ministro declarou oliveirafigueiramente: “Se não tivéssemos apostado na devolução de rendimentos às famílias e no aumento da procura interna, as dificuldades de crescimento seriam ainda maiores.”
É uma frase extraordinária. Reparem: António Costa recorre a uma política que boa parte dos economistas garantem que irá estagnar o país; o país estagna; e Costa conclui: “Se não tivéssemos apostado no mercado interno, ainda iria estagnar mais.” Ó senhor Oliveira da Figueira, eu diria que há aí pelo menos duas notáveis aldrabices.
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É que o ponto é este, e não outro. O petróleo bateu nos 40 dólares por barril em Agosto de 2015. Foi há nove meses. O próprio António Costa referiu em entrevista à SIC que a desaceleração já vem do segundo mestre de 2015. Verdade. Mas, então, o que é que justifica as previsões absurdas de crescimento por parte do governo? António Costa não pode empurrar os portugueses do parapeito e dizer de seguida: “reparem que a culpa é da gravidade”. O escândalo é este: tudo isto era previsível, e era exactamente por ser previsível que uma política de reposições aceleradas é um crime. Mas lá está: desde que o estripador seja amável, nós até abrimos a camisa para ele poder espetar melhor.»
(Excertos do artigo de opinião de João Miguel Tavares, intitulado "Enganem-me, que eu gosto", publicado ontem no jornal "Público")
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