quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Foi Carnaval e todos deviam levar a mal

«Sim, talvez uma comissão parlamentar ajudasse.

O patronato até subsidiava (sempre é menos um dia de folga), as câmaras fingiam desilusão mas logo suspiravam de alívio (ah, adiantar-se ao mau tempo e suspender os cortejos!), o povo, no fundo, agradecia (cada um a lembrar-se do último resfriado) e os líderes aplaudiam (livres das caricaturas mal-amanhadas)...

Se há unanimidade nacional é essa: é Carnaval e todos deviam levar a mal.

Então, porque esperar pela Assembleia da República para acabar com esse piropo de mau gosto que é o Carnaval? Com a Sexta-Feira Santa tão próxima, têm mesmo de ser os deputados a decidir por vocês que não é necessário dedicar mais um dia à tristeza? O desfile de coxas com pele de galinha. O saracotear manhoso, porque não é dançar, é estremecer para aquecer. O locutor televisivo de infeliz alegria profissional a estender o microfone à espectadora, sentada na bancada, com lábios cerrados (não é má-criação, é rabo enregelado)...

E se a AR não agir, terá de ser o Banco Central Europeu a decretar?

Carnaval ou é de biquíni em lugares quentes (Rio) ou é de países frios com dinheiro para vestidos quentes à Maria Antonieta (Munique). Meio-termo (Torres Vedras e Ovar) tem o cortejo orçamental vetado...

A sério, por uma vez os portugueses não podem pôr o destino folião nas suas próprias mãos? Dizer, não vou por aí, nem Loulé, nem Estarreja!

E para figura triste ao menos que não seja à chuva...»

(Artigo de opinião de Ferreira Fernandes, intitulado "É Carnaval e todos deviam levar a mal", publicado hoje no jornal "Diário de Notícias)

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