quarta-feira, 22 de julho de 2015

"Os pais têm medo de educar e traumatizar"

Alguns excertos da entrevista do médico pediatra Mário Cordeiro ao "Jornali":


Os seus filhos mais novos já têm telemóvel?

Já, mas muito limitado – tanto que se esquecem dele. E não têm consolas.

Não pediram?
Pediram e eu disse que não, como disse aos Game Boy dos outros. Mas disse que não sem ser uma raiva cega. Simplesmente achei que seria altamente viciante. Qualquer jogo é viciante e com esse tipo de jogos apetece sempre mais um – seja para continuar a ganhar ou para recuperar da derrota. Sendo uma coisa tão limitada e que não exercita os cinco sentidos, achei que seria muito difícil controlar a fera e decidi que não.

Cometeu alguns erros?
Sei que por vezes gritei quando não devia ter gritado e posso ter feito um charivari por coisas secundárias. Injustiças ao ponto de vista dos traumatizar creio que não, mesmo que possa ter sido injusto. Mas sempre que tive noção disso pedi desculpa.

E palmadas?
Quando eles eram miúdos – assim com um, dois ou três anos – e não entendiam muito bem a comunicação oral, às vezes usei o enxota moscas. Não tenho problemas nenhuns com isso. Acho que é muito diferente bater numa pessoa, numa criança, na cara – o que é atingir a pessoa – do que dar uma palmada na mão ou no rabo se a criança testa o limite e vai mexer em algo que estamos fartos de dizer que não é para mexer. É preciso mostrar que há limites e tem de haver limites em tudo na nossa vida.

Quais são os maiores erros dos pais?
Medo de educar, medo de traumatizar. Caricaturando, aquela coisa do “se educo agora ele depois ainda se mete na droga”. Não tem de ser nada assim. Na altura os filhos podem ficar abespinhados, mas mais tarde agradecem ter sido educados.

O sentimento de culpa de que falava não dificulta esse exercício?
Sim, mas de facto o triângulo pai-mãe e filho no vértice em baixo é para ser usado. As crianças precisam de sentir que há alguém que sabe navegar o barco se houver tempestade.

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