A chanceler alemã acabou com os argumentos de Alexis Tsipras, salvou a unidade da zona do euro e o próprio legado político, opina a jornalista Barbara Wesel. Os gregos serão os maiores beneficiados, assegura.
No fim, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, evitou a ameaça: após uma maratona de negociações em Bruxelas, a saída da Grécia da zona do euro está descartada, pelo menos por enquanto. E se o acordo sobre um terceiro programa de resgate financeiro para a Grécia fracassar, a responsabilidade não terá sido de Merkel.
Pois ela provou que sabe negociar até à exaustão com o renitente premier grego, Alexis Tsipras. No fim, era Tsipras quem estava exausto. Merkel, mais uma vez, comprovou a sua resistência quase sobre-humana em reuniões nocturnas. Tsipras não tinha o que contrapor à autoridade factual e pessoal de Merkel. Ela simplesmente liquidou todos os argumentos dele nas negociações.
.../...Tsipras teve que engolir tantos sapos que deve ter dobrado de tamanho: Imposto sobre Valor Acrescentado, mercado de trabalho, sindicatos, Justiça, bancos, pensionistas, funcionalismo público – agora Atenas terá que liberalizar e reformar em todos os campos.
.../...se em Fevereiro o governo grego não estivesse ainda a apostar na revolução e tivesse, em vez disso, entrado em acordo com os credores internacionais, as exigências seriam mais brandas. Mas, após meses de ziguezagues, de incompetência e da desenfreada retórica arruaceira da tropa de Tsipras, a zona do euro acabou por perder a paciência.
A gota de água foi a cabriola do referendo, em que os gregos optaram pelo "não" ao programa europeu, como lhes fora encomendado. Por fim, até mesmo o melhor amigo de Tsipras, o chefe da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, estava furioso. E agora o primeiro-ministro grego vende aos seus cidadãos o pacote de Bruxelas como grande vitória, embora eles tenham acabado de rejeitá-lo. É assim que se faz democracia na Grécia?
Merkel salvou a unidade da zona do euro e, com isso, o seu legado político. E ela não fica com a imagem de política sem coração e obcecada por normas, pois, afinal de contas, 86 biliões de euros não são uma ninharia. E é fácil defender o facto de ela ter imposto a Tsipras todas as reformas que a troica [os credores internacionais: FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia] já concebeu: é preciso forçar os gregos a encontrar a própria felicidade. Junto com o dinheiro, eles recebem uma liberalização e modernização que nunca quiseram. E, no fim das contas, vão beneficiar disso – essa é a argumentação.
Os críticos já falam de um "Tratado de Versalhes" para a Grécia, pois interpretam como uma mordaça as condições a que está subordinada a nova ajuda do Mecanismo Europeu de Estabilidade. Claro que a questão tem vários poréns: Tsipras conseguirá sobreviver politicamente a esse acordo, ou o seu partido Syriza e sua maioria governamental vão ser esfacelados? O eleitorado vai perdoar-lhe a quebra de todas as suas promessas de campanha? E, apesar de sua longeva cultura de corrupção e de sua histórica tendência à falência estatal, os gregos serão mesmo capazes de reformas?
(Tradução livre de excertos do artigo de opinião de Barbara Wesel, intitulado "Opinion: And the winner is Angela Merkel!", publicado ontem)
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