quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

René Laënnec, o inventor do estetoscópio (2)

René Laënnec e o Estetoscópio, Robert A. Thom
(continuação)
Em 1816  René Laënnec foi colocado no Hôpital Necker. Aí interessou-se pelas doenças pulmonares e examinava os seus doentes utilizando a técnica de percussão, descrita pela primeira vez em 1761, pelo médico austríaco Leopold Auenbrugger, na sua obra Inventum Novum, difundida pelo Professor Corvisart, um método que informa acerca do estado de um órgão através da audição do som obtido pelo bater dos dedos ao nível desse órgão.

Foi neste contexto que René Laënnec terá criado, a 17 de Fevereiro de 1816, segundo se conta, o estetoscópio (termo derivado do grego stethos, que significa peito e skopos que significa olhar, ou seja, olhar dentro do peito), inicialmente um simples rolo de papel atado, a que ele chamava "pectoriloque" que permitia afastar o ouvido do médico do seu paciente, por razões de pudor, estetoscópio que ele não demorou a aperfeiçoar numa peça cilíndrica de 25 cm por 2,5 centímetros, oca, em madeira de buxo, cujo uso é atestado em Março de 1817 pela sua presença sobre as folhas do processo clínico de doentes do Hospital Necker. Iniciou-se assim uma nova prática, que permite analisar os ruídos orgânicos internos, relacionando-os com alterações anatómicas, facto que se revelará particularmente útil no diagnóstico das doenças respiratórias, como a tísica ou tuberculose.

Em Fevereiro de 1818, René Laënnec apresentou as suas descobertas numa comunicação à Academia de Medicina e em 1819 publicou o seu Traité d'auscultation médiate onde classifica os vários tipos de ruídos audíveis no tórax. 

Traité d'auscultation médiate, desenhos do estetoscópio e dos pulmões
Este novo método de auscultação não foi imediatamente aceite por alguns médicos, que preferiram continuar com a técnica usual de ouvir o tórax directamente com aplicação do ouvido (escuta imediata). Apesar de o New England Journal of Medicine ter relatado, em 1821, a invenção do estetoscópio, em 1885 um professor de medicina declarava ainda: Deus deu-nos ouvidos para ouvir, usem as orelhas e não um estetoscópio." Até mesmo o fundador da American Heart Association, LA Connor (1866-1950), continuava a utilizar um lenço de seda que colocava sobre a parede do tórax e não usava o novo instrumento.

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