A judiciosa "Nota de Abertura" dos noticiários de hoje da Rádio Renascença:
«Quando se analisam as últimas notícias sobre a Grécia parece que a crise fica a dever-se à austeridade.
Mas
não é assim. A crise na Grécia deve-se a uma gestão irresponsável –
ainda mais grave do que em Portugal - dos dinheiros públicos e das
contas do Estado. Foi aí que tudo começou. A austeridade não foi a
causa, mas uma consequência.
Acontece que a austeridade só por
si não resolve tudo; é apenas um remédio que se não for acompanhado de
reformas e de uma visão de futuro deixa as pessoas entregues à angústia,
ao sofrimento ou ao desespero.
Por isso, é compreensível que as respostas mais radicais encontrem eco nas sociedades sem esperança nem desígnio de futuro.
É
neste terreno que podem crescer alternativas de extrema-esquerda, como o
Syriza, ou de extrema-direita, como o movimento neonazi, Aurora
Dourada, que é agora a terceira força política na Grécia; já para não
falar do que se está a passar em França, com a ascensão da Frente
Nacional.
Estes resultados aumentam também a responsabilidade
dos partidos que têm governado a Europa: demasiado fechados no casulo
burocrático do poder e sem ideias que projectem o futuro.
Agora
será necessário coragem e bom senso. Haverá seguramente cedências
europeias, mas tudo será pouco para corresponder à promessa do Syriza de
acabar com a austeridade. Por isso, ou o Syriza acaba por deixar cair
boa parte das promessas que fez, enquanto partido de protesto; ou é a
Europa que acaba por deixar cair a Grécia.
Mas de Atenas vem
também uma excelente lição. Menos de 24 horas depois dos resultados
eleitorais, já havia uma coligação formada e um primeiro-ministro
empossado. Em Portugal – pasme-se - as leis eleitorais só permitiriam a
posse cerca de um mês, após as eleições.»
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