quarta-feira, 11 de junho de 2014

O desmaio e o homem (Mário Nogueira) sem préstimo

«O sindicalista Mário Nogueira estava ontem na Guarda, manifestando, enquanto o Presidente Cavaco Silva discursava. A coisa assim, dicotómica e seca, só pode ter uma interpretação política democrática: ainda bem. O Presidente usando a sua prerrogativa de eleito, falar em nome do povo, e o sindicalista da regalia de cidadão, protestando. Ambos no seu direito. Mas mais fundo na análise - para lá dos direitos gerais dos protagonistas - há que reconhecer um paradoxo. Não em Cavaco Silva, que é um homem desta situação política, coerente com o que fez (certo ou errado, não interessa aqui), desde que foi reeleito, em janeiro de 2011. Ele, pois, no lugar consequente. A bizarria estava no outro, em Nogueira, também ele homem do "regime". Aliás, poucos como ele nos levaram ao Governo que temos e à política que aconteceu depois de 2011 e era consabido, antes, que viria a acontecer. Não me interessa se Nogueira estava errado ou não no passado recentíssimo, organizando na rua o Governo PSD-CDS que iria chegar: só estou a tomar nota do paradoxo dos protestos dele, agora. Dito isto, que é só mais uma ambiguidade própria da política, passemos às regras de civilidade. Quando discursava, Cavaco Silva desmaiou. Perante um homem que desmaia, um homem que lhe berra cala-se. Nogueira continuou a berrar. E a dúvida que se lhe pode pôr na política - ele presta-se à direita ou à esquerda? - fica desfeita na vida geral: simplesmente ele é sem préstimo.»

(Artigo de opinião de Ferreira Fernandes, intitulado "O desmaio e o homem sem préstimo", publicado no jornal "Diário de Notícias" de hoje)

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