sábado, 24 de agosto de 2013

Como avaliar a vocação dos futuros médicos?

.../...«A discussão tem andado esquecida, mas quem está na profissão lembra que foi alvo de muitos debates no final dos anos 80. José Caldas de Almeida, director da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, recorda experiências com entrevistas de selecção de candidatos em Lisboa, algo que hoje só acontece no curso do Algarve para licenciados. "Sou um defensor de entrevistas: as qualidades para ser um bom médico não se limitam ao conhecimento. A razão para nunca se terem generalizado é basicamente uma: com o número de candidatos sempre a subir tornava-se impossível montar um sistema fiável e justo."

O argumento a favor de uma selecção diferente é que as qualidades exigidas a quem quer ser um bom aluno e mais tarde um bom médico não se limitam ao que se aprende nos livros. António Vaz Carneiro, professor da Universidade de Medicina de Lisboa, diz que essa é a parte simples do problema. A complexa é que, se Medicina tem 1517 e a média mais alta, é por ser o mais procurado. "Ninguém sabe ao certo quantos candidatos temos, mas são sempre milhares. Isso criaria sempre um problema de selecção. Podemos experimentar vários modelos, mas ficámo-nos pela nota. É o processo que temos, longe de ser o ideal. É possível mudar mas seria caro. Quantos avaliadores, psicólogos e analistas seriam precisos?"

.../... José Manuel Silva, bastonário dos médicos, é o mais reticente: incluir avaliação ou entrevista mais psicológica introduziria um grau de subjectividade que poderia tornar o sistema permeável, avisa. Mas ficar de fora por uma décima não é igualmente subjectivo? "Extremamente. Mas como é que um teste psicológico vai ultrapassar a subjectividade de uma décima? Têm seis anos de formação inicial em que é possível sinalizar dificuldades, caso existam", defende. E os problemas de comunicação ou atitude, de que se queixam os doentes? "Existem diferentes personalidades e sabemos que isso pode gerar conflitos, mas a boa prática é chamar-se a atenção. Se fôssemos seleccionar os jovens pelos melhores comunicadores teríamos uma medicina de banha de cobra."»

(Excertos do artigo de Marta F. Reis, publicado no jornal "ionline" de hoje)

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