.../...«A discussão tem andado esquecida, mas quem está na profissão lembra que
foi alvo de muitos debates no final dos anos 80. José Caldas de Almeida,
director da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de
Lisboa, recorda experiências com entrevistas de selecção de candidatos
em Lisboa, algo que hoje só acontece no curso do Algarve para
licenciados. "Sou um defensor de entrevistas: as qualidades para ser um
bom médico não se limitam ao conhecimento. A razão para nunca se terem
generalizado é basicamente uma: com o número de candidatos sempre a
subir tornava-se impossível montar um sistema fiável e justo."
O argumento a favor de uma selecção diferente é que as qualidades
exigidas a quem quer ser um bom aluno e mais tarde um bom médico não se
limitam ao que se aprende nos livros. António Vaz Carneiro, professor da
Universidade de Medicina de Lisboa, diz que essa é a parte simples do
problema. A complexa é que, se Medicina tem 1517 e a média mais alta, é
por ser o mais procurado. "Ninguém sabe ao certo quantos candidatos
temos, mas são sempre milhares. Isso criaria sempre um problema de
selecção. Podemos experimentar vários modelos, mas ficámo-nos pela nota.
É o processo que temos, longe de ser o ideal. É possível mudar mas
seria caro. Quantos avaliadores, psicólogos e analistas seriam
precisos?"
.../... José Manuel Silva, bastonário dos médicos, é o mais reticente: incluir
avaliação ou entrevista mais psicológica introduziria um grau de
subjectividade que poderia tornar o sistema permeável, avisa. Mas ficar
de fora por uma décima não é igualmente subjectivo? "Extremamente. Mas
como é que um teste psicológico vai ultrapassar a subjectividade de uma
décima? Têm seis anos de formação inicial em que é possível sinalizar
dificuldades, caso existam", defende. E os problemas de comunicação ou
atitude, de que se queixam os doentes? "Existem diferentes
personalidades e sabemos que isso pode gerar conflitos, mas a boa
prática é chamar-se a atenção. Se fôssemos seleccionar os jovens pelos
melhores comunicadores teríamos uma medicina de banha de cobra."»
(Excertos do artigo de Marta F. Reis, publicado no jornal "ionline" de hoje)
Sem comentários:
Enviar um comentário