Excerto do artigo de opinião intitulado "Austeridade e privilégios", da autoria de A. Marinho e Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados, publicado ontem no "Jornal de Notícias" e que vale a pena ler na totalidade:
.../...«a ministra da Justiça (que não chegou a vice--presidente do PSD pela
cor dos olhos ou dos cabelos) tratou, no maior sigilo, de tomar outras
medidas mais eficazes, prometendo aos magistrados que continuarão a
usufruir do privilégio de poderem viajar gratuitamente nos transportes
públicos, incluindo na primeira classe dos comboios Alfa. Para isso
garantiu-lhes (sempre no maior segredo) que o Governo iria retirar da
Lei do Orçamento a norma que punha fim a esse privilégio. O facto de o
Orçamento já estar na Assembleia da República não constitui óbice, pois,
para a ministra, a função do Parlamento é apenas a de acatar, submisso,
as pretensões dos membros do Governo, incluindo os acordos
estabelecidos à sorrelfa com castas de privilegiados.
Mas, mais
escandaloso do que esse sigiloso acordo político-judicial é a manutenção
para todos os magistrados de um estatuto de jubilação que faz com que,
mesmo depois de aposentados, mantenham até morrer direitos e regalias
próprios de quem está a trabalhar. E ainda mais vergonhoso do que tudo
isso é a continuidade de privilégios remuneratórios absolutamente
inconcebíveis num regime democrático, sobretudo em períodos de crise e
de austeridade como o atual.
O primeiro-ministro, se ainda possui
alguma réstia de dignidade e de moralidade, tem de explicar por que é
que os magistrados continuam a não pagar impostos sobre uma parte
significativa das suas retribuições; tem de explicar por que é que
recebem mais de sete mil euros por ano como subsídio de habitação; tem
de explicar por que é que essa remuneração está isenta de tributação,
sobretudo quando o Governo aumenta asfixiantemente os impostos sobre o
trabalho e se propõe cortar mais de mil milhões de euros nos apoios
sociais, nomeadamente no subsídio de desemprego, no rendimento social de
inserção, nos cheques-dentista para crianças e - pasme-se - no
complemento solidário para idosos, ou seja, para aquelas pessoas que já
não podem deslocar-se, alimentar-se nem fazer a sua higiene pessoal.
O
primeiro-ministro terá também de explicar ao país por que é que os
juízes e os procuradores do STJ, do STA, do Tribunal Constitucional e do
Tribunal de Contas, além de todas aquelas regalias, ainda têm o
privilégio de receber ajudas de custas (de montante igual ao recebido
pelos membros do Governo) por cada dia em que vão aos respetivos
tribunais, ou seja, ao seus locais de trabalho.» .../...
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