Concordemos ou não com a política do actual governo, aceitemos ou não pacificamente a elevada taxa de desemprego e os "rombos" salariais ou fiscais que já vigoram ou que estão anunciados para os próximos anos (quantos?), todos esperaríamos que nesta altura crítica para Portugal, os políticos que ocupam os mais altos cargos do governo e o Presidente da República tudo fizessem para preservar uma imagem de unidade nacional relativamente aos sacrifícios que nos são "pedidos". Afinal, as declarações ontem proferidas pelo Prof. Cavaco Silva relativamente à suspensão do subsídio de férias e de Natal, considerando-a uma "violação de um princípio básico de equidade fiscal", contrariam aquela desejável imagem.
Eis, a propósito desta questão, a opinião da jornalista Ângela Silva, expressa hoje na Rádio Renascença e que foi publicada no jornal online "Página 1" de hoje, sob o título
Tudo o que não era preciso
«Eles bem pedem compreensão, paciência e colaboração. Mas, desta vez, o mau exemplo veio de cima. É inaceitável que o Presidente da República e o Governo não se tenham entendido previamente sobre o Orçamento de Estado. Depois, não venham dizer que o país não está para brincadeiras.
Cavaco Silva recebeu Pedro Passos Coelho na terça-feira da semana passada. Dois dias antes de o Governo anunciar o Orçamento que ninguém queria, mas que o ministro das Finanças explicou ser a única forma de evitar o colapso do país. Cavaco estava informado, esteve reunido com o primeiro-ministro, certamente fez o que lhe compete: exigiu saber o que aí vinha. A obrigação dos dois era alinharem posições e discursos. Se há momento que o exige, este é um deles. Não passou pela cabeça de ninguém que assim não fosse.
Ainda não passou uma semana e o incrível aconteceu. Cavaco mandou-se ao Orçamento apresentado por Passos. Diz que é injusto, que não respeita a equidade fiscal, que vai além dos limites nos sacrifícios que pede. É um verdadeiro murro no estômago do Governo. Vindo, não da CGTP, não do PCP, não do PS, mas do Chefe de Estado. Subitamente, Cavaco está lado a lado com Ana Avoila, a dirigente sindical que ontem já veio dizer: ‘’Em coerência, o Presidente só pode vetar este Orçamento’’.
O que quer Cavaco? Eis a questão. Obrigar o Governo a recuar? Ou pôr-se do lado da opinião pública que está indignada com a direita? Nenhuma das duas é boa. Ter as duas figuras cimeiras do Estado de candeias às avessas relativamente às decisões estruturais mais urgentes para o país é uma péssima notícia.
É tudo aquilo de que o país não precisava nesta altura. Depois não venham dizer que temos que ter cuidado com a nossa imagem no exterior.»
Ainda não passou uma semana e o incrível aconteceu. Cavaco mandou-se ao Orçamento apresentado por Passos. Diz que é injusto, que não respeita a equidade fiscal, que vai além dos limites nos sacrifícios que pede. É um verdadeiro murro no estômago do Governo. Vindo, não da CGTP, não do PCP, não do PS, mas do Chefe de Estado. Subitamente, Cavaco está lado a lado com Ana Avoila, a dirigente sindical que ontem já veio dizer: ‘’Em coerência, o Presidente só pode vetar este Orçamento’’.
O que quer Cavaco? Eis a questão. Obrigar o Governo a recuar? Ou pôr-se do lado da opinião pública que está indignada com a direita? Nenhuma das duas é boa. Ter as duas figuras cimeiras do Estado de candeias às avessas relativamente às decisões estruturais mais urgentes para o país é uma péssima notícia.
É tudo aquilo de que o país não precisava nesta altura. Depois não venham dizer que temos que ter cuidado com a nossa imagem no exterior.»
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