Numa entrevista (link) ao diário "Correio da Manhã", pré-lançamento do livro escrito a propósito da investigação que levou a cabo acerca do desaparecimento de seu pai, há cerca de 34 anos, em Angola, a autora, jornalista Leonor Figueiredo, informou que irá divulgar uma lista do Ministério dos Negócios Estrangeiros, com mais de duas centenas de nomes de portugueses desaparecidos naquele território, lista até há pouco classificada como "secreta". A autora diz que «alguns dos “desaparecidos” vieram depois a aparecer nas prisões [angolanas] , com acusações absurdas». Tais prisões foram ilegais, clandestinas e tal só terá sido possível porque «Portugal entregou Angola ao MPLA muito mais cedo do que se pensava. Cerca de meio ano antes.»
Na mesma entrevista, a autora diz pensar que a ideia que se tinha em Portugal sobre Angola estava completamente desvirtuada, pois « Angola era um território moderno, independentemente do sistema político que vigorava. E ainda bem que houve o 25 de Abril. A descolonização é que foi muito mal conduzida. As Forças Armadas Portuguesas – que representavam o Estado português na ainda colónia – não acautelaram minimamente a vida desta gente. Pela documentação que consultei, verifiquei que os vários altos-comissários de Angola pediam, repetidamente, tropas especiais, porque aquilo estava num caos. Mas de Lisboa nunca lhas enviaram.»
Ao cabo das investigações que realizou, a jornalista revela ter concluído que «As autoridades portuguesas estiveram lá [Angola], na última etapa, como se não estivessem. Se formos ver o que se passou, eles fizeram muito pouco pelos portugueses que lá estavam e que sempre lá estiveram. Viam-nos quase como se não fôssemos portugueses, mas como os brancos que “se meteram” com os movimentos. Tiveram o mérito da ponte aérea – com muita ajuda estrangeira. Angola foi abandonada, com portugueses dentro. E as coisas têm que ter dignidade. Admiro os países que trazem para a pátria os seus mortos de guerra e lhe conferem essa dignidade. Em Portugal é o contrário. Ainda temos corpos de soldados portugueses da I Guerra Mundial na Europa e ainda há corpos de soldados portugueses nas ex-colónias africanas. O Estado português não dignifica os seus mortos. E portanto não se dignifica a si próprio.»
O livro, das Edições Alêtheia, deverá estar à venda nas livrarias a partir de 7 de Agosto.
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