quinta-feira, 23 de abril de 2009

Restos e migalhas

Não passam despercebidas, mas comportam-se discretamente. Olhitos suplicantes, silenciosas, em pequeninos passos que fazem oscilar os seus pescoços, ao mesmo ritmo, para diante e para trás, rondam os comensais que se apressam a deglutir um pequeno snack antes de se dirigirem aos respectivos comboios. Procuram as migalhas que ocasionalmente saltam das mesas para o pavimento e deglutem-nas avidamente. Quando os restos são de maiores dimensões, batem com eles no chão, repetidamente, até os fragmentarem em pedaços mais pequenos que se ajustem às suas possibilidades de deglutição. Ocasionalmente, os próprios comensais, ao repararem nos inusitados "pedintes", atendem às súplicas dos seus olhares e lançam-lhes, delicadamente, alguma porção dos alimentos que consomem. Tudo se passa pacificamente, com aceitação mútua, "pedintes" e viajantes de passagem. Mas, por vezes, há sobressaltos e até temor de súbitos e indesejados contactos físicos: quando um dos inusitados "pedintes" se ergue em inesperado voo, rápido e curto, para ir pousar mais adiante. São assim os casais de pombas que se vêem a deambular pacificamente entre os frequentadores ocasionais da sala de espera da Estação de Caminhos de Ferro de Santa Apolónia, em Lisboa. Mas não se pense que ali residem. Uma janela, convenientemente semiaberta para o exterior, permite que recolham atempadamente ao ninho e que dele retornem quando a fome não saciada as conduza ao local da abundância.

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