Se não é uma obra prima anda muito perto disso. Este filme de Clint Eastwood, que superiormente o dirige e também interpreta, apresenta-nos um tema actual e uma situação conflitual que poderia ter-se passado em qualquer país com minorias raciais ou étnicas provenientes da imigração. Walt Kowalski (Clint Eastwood) é um veterano da guerra da Coreia, montador de carros Ford aposentado, um homem rígido e amargo. Viúvo há pouco tempo, vive sozinho, tendo como única companhia a sua cadela Daisy. Tem um relacionamento difícil e distanciado com os dois filhos e respectivas famílias. O bairro, onde reside há muitos anos, passou a ser habitado predominantemente por imigrantes Hmong, grupo étnico da região do sudeste Asiático, que lutou ao lado dos Estados Unidos durante a Guerra da Coreia. Walt despreza-os visceralmente. Um dia, Thao, um dos seus jovens vizinhos, pressionado por um gangue, tenta roubar o seu precioso Ford Gran Torino. Walt impede o furto e tenta protegê-lo, e à família, das represálias do gangue, tornando-se o herói involuntário do quarteirão. Como agradecimento, a família de Thao obriga este a oferecer-se para trabalhar gratuitamente para o vizinho. Walt acaba por dar-lhe pequenos trabalhos comunitários. É o início de uma amizade inesperada, que mudará o curso das suas vidas. E, graças a Thao, também Walt vai conhecer verdadeiramente os seus vizinhos e acaba por admitir que tem mais ligação a esses exilados do que à sua própria família. A qualidade do tratamento cinematográfico é excelente e está na linha, aliás, daquilo que tem sido apanágio da filmografia de Clint Eastwood nos últimos vinte anos. Incompreensível é que esta obra, de enorme qualidade, tenha merecido tão reduzida atenção dos meios cinematográficos norte-americanos. Com efeito, apesar de ter sido considerado pelo American Film Institute como um dos dez melhores filmes de 2008 e ter tido nomeações várias, ganhou apenas um prémio do National Board of Review, para melhor actor (Clint Eastwood).
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