segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

A carreira médica e os factores determinantes da saída do Serviço Nacional de Saúde (SNS)

"A carreira médica e os factores determinantes da saída do Serviço Nacional de Saúde", é o título de um estudo, assinado por Marianela Ferreira, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, baseado em inquéritos a três grupos distintos de profissionais inscritos na Secção Regional do Norte da Ordem dos Médicos (OM), especialistas, jovens ainda fazer a especialidade e médicos que já abandonaram o serviço público.

Mais de dois mil médicos, num universo potencial de mais de 13 mil inscritos na Secção Regional Norte da Ordem em 2016, responderam às perguntas formuladas neste estudo.


Independentemente do grupo etário e da condição profissional, os resultados preliminares provam que é transversal a insatisfação com o SNS por diferentes razões, com o excessivo número de horas de trabalho semanal à cabeça. O único aspecto em que a maior parte dos 2283 médicos dos três grupos que responderam ao questionário online se mostram globalmente satisfeitos é no relacionamento com os colegas.

Mas é entre os mais novos que as perspectivas em relação ao futuro se apresentam sombrias: cerca de quatro em cada dez afirma que não espera continuar no SNS depois de terminar o internato de especialidade e metade considera a possibilidade de emigrar para exercer medicina no estrangeiro. Apenas um em dez afirma que irá com certeza continuar no SNS e que nenhum valor o fará sair de Portugal.

"Há um desencontro entre o funcionamento do SNS e as necessidades e expectativas dos médicos, que são o seu capital mais valioso", sintetiza a coordenadora deste trabalho de investigação, Marianela Ferreira, que realizou o estudo em colaboração com a Secção Regional do Norte da OM. "Não tem havido incentivos para fixar os médicos, o SNS não tem sido competitivo", lamenta.

Marianela Ferreira, autora do livro "Sair Bem", em que analisou os trajectos profissionais de médicos e enfermeiros, recorda que, quando começou esse trabalho, quase 99% dos médicos inquiridos recusava a hipótese de reforma antecipada. Um cenário bem diferente do actual, por razões que não se prendem com o facto de os médicos não apreciarem o SNS, mas com as mudança das regras da aposentação e a degradação das condições de trabalho. "Eles enfrentam um dilema muito grande entre a vontade de continuarem a ser médicos e a vontade de sair do SNS, face à instabilidade e às más condições".

Ouvido pela agência Lusa sobre as conclusões do estudo de Marianela Ferreira, o bastonário da Ordem dos Médicos sublinhou receber, a um ritmo diário, chamadas de clínicos a um passo de deixar o SNS. Miguel Guimarães exorta mesmo o Ministério da Saúde a rever as condições da carreira.

"Todos os dias recebo chamadas de médicos que já emigraram, pretendem emigrar ou daqueles que vão trabalhar no sector privado. E o motivo tem a ver com uma questão central que são as condições de trabalho, que envolvem vários fatores que podem determinar a continuidade ou não das pessoas no Serviço Nacional de Saúde", explicou o responsável.

"Nos últimos anos a carreira médica não tem tido aplicação prática", acrescentou.

(Ver também "Por que razão há médicos e enfermeiros a deixarem o Serviço Nacional de Saúde?") 

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